Por Domingos da Cruz || Na minha página do Facebook, postei o seguinte: Karl Marx em defesa da liberdade de Imprensa. À seguir vem um textinho que resume a visão de Marx sobre a imprensa e que no essencial foi revisitada e reactualizada pela nova geração de filósofos Marxistas. Uma visão com a qual estou de acordo. “Para ele, o jornal deveria ser uma arma de combate à opressão e à exploração e não um veículo neutro.
“A função da imprensa é ser o cão-de-guarda, o denunciador incansável dos opressores, o olho omnipresente e a boca omnipresente do espírito do povo que guarda com ciúme sua liberdade”. Em outro texto, afirma: “O dever da imprensa é tomar a palavra em favor dos oprimidos a sua volta. O primeiro dever da imprensa é minar todas as bases do sistema político existente”.
Por esta postagem muitos amigos da rede comentaram, mas chamou-me atenção o seguinte comentário: “(…) Mas o Marx não era democrático, desculpa lá!” – Miguel Gomes. Diante disto reagi com os seguintes argumentos à seguir. Gostaria dirigir-me de forma particular ao Miguel Gomes que afirma que Marx não era democrático.
É importante não confundir Marx filósofo e pensador que construiu todo um sistema de pensamento que se estendeu para a estética, antropologia, para a teodiceia, a ética, a economia, a sociologia etc, com o socialismo/comunismo prático que foi uma interpretação e aplicação errada das ideias do velho Marx pensador.
Só para compreender, Adam Smith, apesar de ser um dos maiores expoentes do liberalismo económico, tal como conhecemos hoje e que tem sua máxima expressão nos EUA (partido republicano como braço da sua defesa radical), ele também defendia limites no mercado capitalista por meio de um senso ético expresso num livro depois da publicação de “A riqueza das Nações”. Significa que o liberalismo tal como conhecemos hoje, expresso no capitalismo selvagem sem alma é uma má interpretação de Adam Smith, tal como o “socialismo radical” foi uma má interpretação de Marx.
Se o Sr. é humilde leia um pouco mais e saberá que os Direitos Humanos, um aliado histórico incontornável da Democracia encontram em Marx a mais viva defesa e sustentação teórica. Para tal leia o seu livro “ Sobre a questão judaica”. É verdade que Marx não foi muito útil no quadro dos Direitos políticos, mas graças ao velho Marx as democracias têm o rol de direitos económicos e socais.
É importante que o Sr. saiba que a defesa dos democratas tradicionais em relação ao sistema político e o rol de direito era só para aquilo que se chamava, no século XV até a primeira metade do século XX, a classe burguesa, e graças a crítica teórica Marxista que mudou-se o quadro.
No âmbito da imprensa, precisas saber que Marx escreveu o livro chamado a “ Liberdade de Imprensa” e nela critica a lógica liberal da Imprensa que conduz-se para uso ideológico de opressão e para o enriquecimento dos mais fortes. Para Marx, a imprensa deve ser controlada pela classe média e trabalhadora e não pelos capitalistas e poderosos como assistimos hoje.
Sabias que Marx foi jornalista e chegou à ser director de jornais? Saiba ainda que Marx foi perseguido, julgado e teve muitos processos judiciais como consequência da sua vida jornalística, mas um jornalista que defendia uma mídia plural, mais do lado dos fracos.
Para retroceder ao primeiro parágrafo, devo dizer-lhe que muitos pensadores foram vítimas de má interpretação e por isso hoje estão a ser revisitados e reinterpretados: Maquiavel, Nietzsche, Galileu, etc. Isto levar-nos-ia à escrever um livro para responder conforme a tradição académica séria faz, o que não é o caso de Angola, um país em estagnação civilizacional com sinais de modernidade importada, mesmo sem os compreenderem!