A POLÍCIA EM ANGOLA

A POLÍCIA EM ANGOLA

Crisóstomo Ñgala ǁ Nos últimos anos várias vozes têm sido silenciadas pela Polícia Nacional de Angola. Juliana Kafrique, uma vendedora ambulante; Inocêncio de Matos, estudante; Doutor Sílvio Dala, médico. Foram assassinados pela Polícia. Em janeiro do ano passado (30/01/2021), no que veio a ser conhecido como massacre de Kanfunfu, a Polícia de Angola disparou indiscriminadamente contra civis, tendo como resultado a morte de mais de 15 pessoas e incontáveis feridos. E janeiro 2022 teve início com a vergonhosa notícia de que o desentendimento entre policiais resultou em duplo homicídio e seguido de suicídio justamente no edifício sede do Ministério do Interior.

Ou seja, quando civis e indefesos são assassinados a queima-roupa e quando os derramamentos de sangues de inocentes são praticados pelo mesmo órgão do Estado, é porque há alguma inação intencional. Ou melhor, na verdade todos esses crimes apenas revelam o quanto o Movimento de Libertação Popular de Angola (MPLA) tem extravasado o seu papel, a ponto de se tornar insuportável. Além de que, essa é a prova clara do estado psicoemocional dos nossos agentes, que ninguém sabe ao certo como são contratados.

Matthew Williams, um professor de criminologia da Universidade de Cardiff, no País de Gales, no livro A ciência do ódio, explica que “a polícia só consegue desempenhar seu papel de forma eficiente se as pessoas às quais ela serve aprovarem seu papel” (WILLIAMS, 2021, 60). Em tese o papel da polícia é proteger a todos, e não apenas alguns. Lamentavelmente, em Angola a Polícia é uma organização criminosa, altamente corrupta e sobreveniente do MPLA, único partido e partido único no poder desde 1975.

Era bom que fosse um órgão a serviço do bem das pessoas e uma instituição de confiança. Mas não, a Polícia que temos em Angola quebra a ordem social e pratica atos que inibe a confiança do povo. Se ela fosse de confiança, seria alto o nível de cultura da denúncia. Pois fazer denúncia depende da confiança e do pensamento que se tem sobre as autoridades. A falta da cultura de denúncia tem levado a um ciclo vicioso de ausência de policiamento, o que significa a liberação do aumento de níveis de criminalidade.

Angola é um país dos que mais acontecem assaltos violentos e com índice de criminalidade assustador, e na maioria das vezes à mão armada. Em nosso País, a violência está naturalizada e é tida como essência do direito, como se o direito das pessoas tivesse sido abolido ou suspenso.

Senhor Presidente do MPLA, não basta exonerar o Comandante Geral da Polícia. Pois as pessoas não mudam por decreto. Está na hora de a Polícia ter câmaras corporais e ajudar a fornecer melhores provas. A Polícia é um órgão de confiança, e não de desconfiança e medo. E por quê não há ampla cobertura por parte da TPA, da TV Zimbo, da RNA e do Jornal de Angola em casos de incidentes e quebra de confiança da Polícia? Por quê?  

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