



Por Pascual Serrano|| Assim como os meios de comunicação gostam de apresentar-se como o simples reflexo da realidade quanto à sua cobertura informativa, quando opinam ou editorializam tentam dar a entender aos cidadãos que essa opinião ou posição ideológica é apenas um reflexo do sentimento maioritário, “um clamor”, como costumam assinalar com frequência.
Trata-se de um claro exemplo de covardia intelectual e de engano do público, uma vez que não o anunciam como seu próprio ideário ou proposta política, mas sim tentam fazer-nos acreditar que é o cidadão que participa dessa posição e exige acções, sem que existam elementos informativos rigorosos que os sustentem. Lembro de um director de jornal que quando queria denunciar um caso de corrupção, por mínimo que fosse, ou pedir um determinado investimento em infra-estrutura para a Administração, escolhia manchetes como “Um clamor do povo se indigna pelo caso…” ou “Um clamor exige um novo trilho da estrada de la Coruña”.
Evidentemente, quando se saía à rua não se via o clamor, que só existia na cabeça do director do jornal. Um jornal venezuelano destacava que os turcos estavam preocupados por ter um presidente islâmico duas semanas após terem votado nele por maioria. O único que estava preocupado era o director do jornal venezuelano; os turcos se preocupavam em ter outro diferente do que votaram. O jornal espanhol El Mundo tem uma secção denominada Vox Populi, e ali escolhem figuras públicas que sobem ou descem. Mas na secção não consultam ninguém para detectar essa “voz popular”: simplesmente aplaudem ou vaiam, em nome de toda a sociedade, os personagens que eles decidem. Esse hábito é uma distorção da realidade, isto é, um engano, porque indicam para os cidadãos qual é a sensação ou a opinião generalizada diante de determinado facto, e não é verdade, é apenas a linha editorial do meio.
A pretensão de identificar o interesse público com os interesses do grupo editorial que dirige um meio de comunicação é um objectivo prioritário porque será a via com a qual tentarão nos infundir a sua legitimidade como aproveitadores do direito de informar.
Fonte: In: Desinformação: Como os meios de Comunicação Ocultam o Mundo. 2010, pp.48-9.