Je suis Charlie: A farsa dos líderes e a hipocrisia política Ocidental

Je suis Charlie: A farsa dos líderes e a  hipocrisia política Ocidental
charlie NOVOSS
[Pt/rmc]

Por Muata Sebastião || Nos últimos dias, o mundo tem acompanhado um cenário que se universalizou e fez com que muitos inocentes e alienados olhassem na atitude do povo francês e de alguns líderes mundiais que se uniram à manifestação do dia 11 de Janeiro do ano em curso, como os verdadeiros e puros defensores da liberdade de expressão e homens cuja solidariedade é inquestionável!

As atitudes manifestadas no dia 11 foram, não somente, o resultado de um comportamento que o ocidente sempre demonstrou para fazer valer sua supremacia, e ainda, para provar mais uma vez que, somente o que eles fazem merece honrarias, uma atitude que atinge mentes não bem instruídas e por inocência ainda emociona e se comovem, quando, na verdade, tudo isso não passa de uma atitude falsa e hipócrita.

Ser Charlie, no entanto, virou moda e como se não bastasse todo mundo quer ser o Charlie, mesmo diante de uma atitude em que o terrorismo é repugnado, alguns dos que preferiram ser o Charlie são os maiores opressores de seus povos.

É preciso perceber  que, toda produção ocidental apenas tem dois objectivos:  enganar ou para mostrar sua supremacia que na maioria das vezes é manifestada como sinal de exploração. Diante dessa atitude, muitos  ainda continuam pensando que a política ocidental é ideal para os povos, até porque nossos problemas mais do que serem diferentes são para a política ocidental questão de estatística e não de facto um problema reflectido e assumido como fizeram em solidariedade aos ataques ao jornal Charlie Hadbo e ao mercado judeu.

O terrorismo existiu desde que a “egocracia” começou a fazer parte de certos líderes que apenas pensavam em implementar leis para fazerem-se obedecer e temer, uma atitude que a Alcaida, o Estado Islâmico e os africanos do  Boko Haram têm demonstrado nos últimos tempos, matando e ameaçando, com intenção de criarem uma identidade política apoiada no Islamismo.

Tudo isso, demonstra o quanto é forte e extenso as atitudes extremistas manifestadas por esses grupos, mas infelizmente até antes dos ataques a revista e ao mercado judeu na França ninguém se sentiu comovido com as barbaridades que já marcam séculos.

França
[Pt/rmc]
Hoje muito se fala de terrorismo, e ao fazê-lhe referência, muitos pensam simplesmente numa atitude protagonizada com base na força bélica, mas se esquecem de que as vezes o pior terrorismo é a forma como as diplomacias actuais são levadas a cabo, o modo como as lideranças políticas mantém suas relações, como por exemplo, um país como Angola ter relações diplomáticas com um País tão repressor e conflituoso como a Rússia! E recorda-se também que a Rússia, assumiu e deu-se o luxo de ser o Charlie, quando na verdade existe lá muitos e muitos casos de opressão e controle da mídia, uma invasão à liberdade de expressão.

E dentro dessa lógica em que o terrorismo não é apenas actos movidos com recursos ao armamento,mas também pelo poder da eloquência como sublinhei antes e as vezes a força da “eloquência enganadora” torna-se visível notar como a fala tornou-se actualmente um dos fortes elementos de destruição “populorum”.

Portanto, não é terrorista apenas aquele que ameaça ou mata usando armas, como também se pode ser terrorista usando da eloquência para ameaçar, enganar e confundir povos e nações. Terrorista contra outro terrorista é no fundo aprofundar os ideiais do terrorismo. E se pode ser Charlie ao lado dos terroristas, prefiro não ser.

Só para lembrar, estavam presentes na manifestação do dia 11, líderes políticos muitos deles opressores em seus países como Ahmed Davutoglu(Premier da Turquia), Sergei Lavrov (chanceler Russo), Ali Bongo (Presidente do Gabão), Adbullah (Rei da Jordânia),Viktor Orban (Premier Ungaro), Sameh Choukryou( Ministro das Relações exteriores do Egito),estes e tantos outros, também, são Charlie, e percebe-se que ser Charlie é uma autêntica brincadeira. Em seus países, esses homens mandam e desmandam, oprimem e reprimem, e no passado dia 11 hipocritamente queriam mostrar de que são defensores e promotores da liberdade de expressão! Tenho nojo desses homens, que ainda olham na humanidade como sendo uma máquina a ser desmontada como e quando quiserem!

É incrível como o ocidente ainda continua enganando os pobres dos países pobres e a África e seus líderes continuam, como sempre, aplaudindo atitudes que não nos representam. Não estou querendo dizer de que, levantar-se contra o terrorismo, e defender a liberdade de  expressão e de imprensa seja algo funesto, não é isso, mas o que estou querendo dizer, é que não deveriam esperar que manifestação de gênero acontecesse num momento em que a história do terrorismo tem nos provado e mostrado que milhões e milhões de pessoas já foram vítimas de terroristas e ninguém se levantou a não ser fazer estatísticas dos acontecimentos.

O Estado Islâmico e o Grupo Boko Haram e outros rebeldes tornaram-se nos últimos tempos os maiores assassinos mundiais, atacam famílias vulneráveis, sequestram crianças e jovens, decapitam, na maior das vezes, pessoas que fazem missões humanitárias e os Charlies apenas fizeram estatísticas, uma análise rotineira e que mostra certo desinteresse com o problema! Todos os dias actos de gênero acontecem no Oriente médio e na África, mas isso não representou nada para os Charlies de hoje. Claro, grande parte destas atrocidades, sobretudo os rebeldes que combatem no continente berço, têm recebido financiamentos dos europeus, hoje Charlies. Muita vergonha ver que Igrejas, e estados ainda louvam atitudes de Gênero, quando na verdade deveriam recuar diante de uma manifestação que apenas representa um povo e uma elite enganadora.

África e os africanos precisam acordar e entender de que as produções ocidentais como essas, nunca nos poderão representar, o que nós queremos é a união e não sermos Charlies, quando muitos de nossos irmãos sofrem, são perseguidos, quando muitos de nossos irmãos são aliciados com financiamentos estrangeiros e muitos destes morrem em combates, um financiamento que acaba com nossas famílias e cultura, enquanto os financiadores se aproveitam dos conflitos em troca de nossos recursos. Não quero ser Charlies, “veulent pas être charlie, je ne me sens pas beaucoup moins d’intérêt pour ça”, por isso je ne suis pás Charlie!

Falo muito da África partindo da ideia negativa que o próprio ocidente inventou, mostrando não o que ela tem de bom, mas apresentando e deixando apenas passar nos seus canais de TV, Rádio e Jornais situações vulneráveis, esquecendo que num universo com mais de 50 países alguns destes apresentam melhores condições de vida e de vivência. Para os ocidentais, isso não existe. Existe apenas pobreza, doenças, conflitos este último, que eles mesmos financiam e que, fingidamente não assumem, assim como as ditaduras que eles defendem a ponto de votarem em certos países cuja ditadura e o autoritarismo político é intenso e visível! E fruto disso, temos hoje no conselho de segurança da ONU países como Angola, ocupando a cadeira de membro não permanente do referido organismo internacional, Deus nos acuda! Para mim o Ocidente já não deveria em alguns casos ser modelo e exemplo a seguir, simplesmente por ser grande parte fomentadora de conflitos e aplicadores da esperteza dos ratos, que “mordem e sopram”, são os Charlies de hoje, infelizmente!

Precisamos muita das vezes, entender que situações como as que o mundo hoje vive e que já viveu, e que não são poucas e felizes, nunca foram tratadas de uma forma pacífica, alias os que se manifestaram contra, sempre foram aqueles que em seus países também reprimem, mesmo não sendo com mesmos ares com que várias formas de opressões acontecem em África e nas Américas onde jovens, sobretudo, negros são mortos, e as autoridades perdem sensibilidade diante destes acontecimentos. Charlie, não.

Precisamos de pessoas que lutam e se tornam defensores do amor, da paz, da liberdade religiosa, política, ideológica, pessoas que olhem na humanidade com olhos humanos, homens que sejam capazes de promoverem o bem estar social de todos.

Os acontecimentos terroristas que acontecem no continente berço, os assassinos de jovens negros nos EUA e no Brasil quem as noticia, se são noticiadas, com que ares as informações chegam ao consumidor?

O mundo não é somente a Europa e parte da América, o mundo é toda e qualquer parcela cósmica que representada geograficamente. Diante disso a questão que coloco é: Porque os actos terroristas que acontecem na África a mídia internacional as ignora? Só porque não tem Charlie aí?

Chega de “eurocentrismo” ou “ocidentrismo”. É preciso que as questões da humanidade possam ser vistas e tratadas com o mesmo senso de humanismo tal como consta na carta magna das Nações Unidas. Se o separatismo com que certos assuntos “ditos mundiais” continuarem a serem tratados da forma como elas tem sido, é melhor que certas instituições que se dizem mundiais desapareçam, e que seja dada a cada continente, a cada povo, raça e etnia sua própria autonomia, pois se percebe que as instituições e seus líderes são incapazes de promoverem o convívio na diversidade.

charlie-hebdo1
Stephane Charbonnier “Charb”, Director do jornal, uma das 12 vítimas mortais. [F/ rmc].
Alias, não foi a mesma revista que chamou a ministra francesa de Macaca? Porque ser então Charlie? Também não seria porque com os racistas eu não compactuo.

Diante do que acabo de apresentar, chego a conclusão de que: Ser Charlie é ser um mentor de separatismo e descriminação social, política e ideológica, e quando se é assim , é inútil evocarmos e nos darmos ao luxo de ser o Charlie.. Então se Charlie é falta de senso humano, é melhor não ser.

Se for falta de competências para promover o amor, a paz, o diálogo, a fraternidade e entender e identificar-se com o problema que é comum e mundial e não apenas da Europa ou da França, é melhor não ser. Por isso, não sou, não quero ser e jamais pretendo ser. Não quero correr riscos e causar pânico aos que vem minha luta contra as incongruências sócias e políticas manifestadas por vários líderes e suas instituições.

Ser Charlie, infelizmente virou moda e charme, mas eu prefiro estar longe tanto de um como de outro, prefiro estar longe destes elementos e é com esse propósito que trago essa discussão, pensar seriamente sobre quem somos como povo e nação.

RELACIONADOS:
Governo paternalista e o exercício da cidadania

Os objectivos não estão longe daqueles defendidos pelo poder colonial. Pois, no nosso caso, além do sistema reproduzir as desigualdades impossibilita também a crítica.  Muata Sebastião│ A velocidade da informação, Leia mais

A ESCOLA E A FORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA CRÍTICA

Muata Sebastião*│Sou adepto da experiência em sala de aulas, pertenço a esse lugar chamado escola, mesmo não compactuando com a forma como ela é pensada e encarada pelos seus idealizadores, Leia mais

Liberdade de imprensa: ética, política e cidadania

O direito de se expressar não isenta o carácter ético e moral que devem ser observados no momento em que os indivíduos manifestam as suas opiniões… Muata Sebastião│Reflectir sobre à Leia mais