O orgulho à imbecilidade

O orgulho à imbecilidade
banque-o-idiota
[Pt|rmc]

Domingos da Cruz II As palavras que hão-de verter nas linhas a seguir, retratam e analisam um fenómeno que não é novo. Nos últimos anos foi ampliado. Este fenómeno que promove, celebra e se orgulha da mediocridade, da estupidez e da imbecilidade (quase) nacional, foi construído pela elite política do retrocesso.

A filósofa Márcia Tiburi, entende que «uma nova profissão surge na sociedade actual. A do imbecilizador. Essa actividade, curiosa, cresce e aparece sem que ninguém conscientemente queira usar seu serviço, nem por desejo, nem por necessidade. Mesmo assim, o imbecilizador profissional faz sucesso. Ninguém pede sua actuação, ela se dá de graça, mas custa o preço da alma».

Os debaixo eram vítimas. Eram manipulados e amassados como massa de tomate. Mas, a dada altura, alguns passaram a ser cúmplices. Co-responsáveis pela promoção da imbecilidade à escala nacional por meio da media, porque de forma consciente ou patológica, alinharam na agenda da nomenclatura, transformando-se em “megafones humanos” que cimentam a narrativa da ignorância. Estes “megafones humanos” pensam que estão a dizer algo de novo. Na realidade só respondem as suas pulsões pelo «ser que não é», diria o filósofo inglês, Berkley. Mas sabe que o seu existir depende da exposição mórbida e ad nauseam. Mantendo-se presos no eterno retorno discursivo de uma sociedade atolada em si mesma. Sem criatividade. Sem inovação.

Na realidade, quando numa sociedade as pessoas transformam-se em faladores sobre tudo; De tudo. Nada dizem. Nada contribuem. Simplesmente transformam a sociedade num antro de ignorantes orgulhosos da sua ignorância, que tem como ponto de partida o imbecil auto-imbecilizado, que por se convencer que sabe, se transformou em imbecilizador colectivo a partir do palco da imprensa. E atingem o cume da soberba!

É perigoso ver uma sociedade transformada em espaço colectivo para falar à toa, a toda hora, dia, meses e anos. Assim é impossível ter interlocutor à altura de alguma troca de razões com o mínimo de sentido. É aqui onde está o problema. Emperra a possibilidade de desenvolvimento.

Recentemente, estive num encontro com o Professor Jean-Michel Mabeko Tali, da universidade de Howard (Washington DC) e fez exactamente a mesma constatação: «Estou preocupado com o que se passa em Angola. As pessoas falam muito. Mas, estão sempre a falar atoa!».

De acordo com o ilustre Professor, a receita para não falar atoa é simples: estudar. Por favor, entenda: não estamos a falar em alcançar títulos académicos. Mas, pesquisar o máximo sobre o que você quer levar para o público quando comunica.

Ficar em silêncio em certas circunstâncias é sinal de dupla elevação humana: i) Humildade. Nela está expressa o amadurecimento ético. O reconhecimento da finitude e limite no nosso saber, e por isso, não se pode falar sobre tudo; ii) Sabedoria. Expressão de amadurecimento antropológico no sentido existencial. O silêncio em certas circunstâncias é revolucionário, defende o sociólogo francês David Le Breton.

Quando o imbecilizador colectivo atinge os píncaros da soberba, o caminho inevitável é o “charlatanismo mediático” num mix com a “mediadependência” − pulsão intensa à exposição aos medias, reforçada pela falsa ideia de que é nela onde residem a realização e o sucesso.  

comunicação
[Pt|rmc]

Não me oponho ao exercício da sua liberdade de expressão, mas não minta. Não manipule a sociedade. Não contribua mais para a estagnação de uma sociedade já desgraçada há séculos!  

O papel do imbecilizador é tão pernicioso, que pode contribuir para consolidar uma psicologia colectiva de um povo caracterizada por: «uma imperturbável desonestidade, uma mentalidade fatalista, (…) indiferença ao sofrimento. (…) um povo convencido, não tem escrúpulo, promete facilmente aquilo que sabe  ser incapaz ou que não tem intenção de cumprir, adia tudo constantemente, é falho em perseverança e energia, mas submisso perante a disciplina (opressora). Acima de tudo, gosta da intriga, e vira-se facilmente para a prevaricação e a desonestidade sempre que aí vê uma possibilidade de ganho pessoal. Muito embora seja um mentiroso inveterado, não espera que acreditem nele. Adquire (…) conhecimento superficial sobre assuntos técnicos, iludindo-se a si mesmo ao pensar que é profundo», refere Stephen Kinzer, em Os Homens do Xá.

Poucos meses antes da sua morte, com algum exagero, Umberto Eco afirmou: «as redes sociais dão o direito de falar a uma legião de idiotas que antes só falavam em um bar depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a humanidade. Então, eram rapidamente silenciados, mas, agora, têm o mesmo direito de falar que um prémio Nobel. É a invasão dos imbecis». O que mais direi eu, que seja útil neste instante? Nada. Aqui fico!

RELACIONADOS:
Cabo Delgado: Desafio à legitimidade do Estado ou novo monopólio da força?

António B. S. Júnior│A legitimidade dos Estados Africanos vem tomando centralidade nos questionamentos dos estudiosos que se interessam pela política africana desde o fim da opressão colonial. A este respeito, Leia mais

Entre os recursos naturais, a guerra e a COVID-19 em Cabo Delgado

António Bai Sitoe Júnior │Depois da descoberta dos recursos naturais na província de Cabo Delgado, vários fenómenos conjugaram para a transformação da paisagem política, social e económica da província, principalmente Leia mais

O Movimento Jovens pelas Autarquias e o novo paradigma de participação (2/2)

João Manuel dos Santos│No entanto, essas novas organizações assumem-se como o continuar de um movimento contestatário que começa a surgir nas ruas de Luanda no verão de 2011. Pois que, Leia mais