SOCIEDADE DAS ESTRELAS: QUAL É O SENTIDO DA VIDA?

SOCIEDADE DAS ESTRELAS:  QUAL É O SENTIDO DA VIDA?

Kanienga Samuel| Estrelas são basicamente corpos celestes, cujas gravidades em que estão sujeitas as comprimem (comprimindo seus corpos, feitos de gás e poeira), causando uma fusão nuclear e, neste processo, a liberação de energia (basicamente a emissão da luz que vemos delas, que continua a existir mesmo após suas mortes). Grosso modo, os meios em que estão comprimem-nas, fazendo-as brilhar ao mesmo tempo em que as esgotam. Coisa muito parecida está acontecendo conosco (humanos). No lugar das estrelas, temos as pessoas e, no lugar da gravidade, temos a sociedade capitalista selvagem que, para lucrar (e manter a economia em bom funcionamento, claro), comprime as mesmas através de constantes estímulos (por meio de músicas, vídeos, redes sociais, filmes, novelas etc.), obrigando-as a brilhar sempre (estar sempre feliz, tendo sempre os smartphones recentes, roupas da moda, carros, entre outras coisas que vêm com famosos e/ou amigos das redes sociais) até se esgotarem, adquirindo assim a Síndrome de Burnout. Esse esgotamento muitas vezes culmina em morte (suicídio, por exemplo) ou, no mínimo, em doenças neuronais como: depressão, angústia, déficit de atenção, transtorno de personalidade limítrofe, entre outras.

Qual é o verdadeiro sentido da vida? Quem realmente somos? De onde realmente viemos? Onde realmente estamos? Aonde realmente vamos? Essas questões há muito que inquietam o coração humano, principalmente desde a Modernidade (com ênfase no século XIX), com a “morte de Deus” ou, mais precisamente, quando a igreja começou a deixar de ser onipotente e Deus o centro do universo (humano), ficando assim um vazio do tamanho de Deus ou, mais especificamente, um vazio existencial; vazio este do qual estamos constantemente (e fracassadamente) fugindo. Em grande parte, a vida humana, em última instância, consiste nisso, como bem argumentou o filósofo e cientista francês Blaise Pascal (1623-1662). As vaidades, defesas de causas (principalmente na internet), etc., são também uma forma de escapar desse vazio!

As respostas a essas questões (isto é, as tentativas de se preencher esse vazio) são muito e naturalmente divergentes, e não quero aqui entrar no mérito do verdadeiro sentido da vida, com exceção de um adotado propriamente no século XX, a saber: o C O N S U M I S M O, o “compro, logo existo!” (ou “tenho, logo existo!”). O consumismo não é, pelo menos atualmente, um mero hábito de comprar desnecessariamente, e sim uma forma de se expressar através de bens de consumo (smartphones, roupas, calçados, etc.), uma condição para a felicidade e, por conseguinte, um sentido de vida (o substituto escolhido para se preencher o vazio existencial que habita na alma humana). O seu sucesso se deve a isso; basta ver como uma compra pode acalmar a alma (se você está tedioso ou se sente vazio ou vazia, basta fazer compras que o problema estará resolvido)! Zygmunt Bauman (1925-2017), sociólogo polonês, estava certo ao afirmar, grosso modo, que o sucesso do consumismo deve-se ao fato de os produtos de consumo serem associados à identidade; as empresas, seguindo a tática de Bernays, incutem, de maneira inconsciente, na mente dos consumidores o desejo de comprar para expressar suas personalidades a outros, para mostrar que também são e/ou podem.

Sigmund Freud (1856-1939), médico neurologista e psicanalista austríaco, para resumir a ópera, descobriu que o homem não é um “ser racional”, isto é, não é tão racional quanto se pensava. Na verdade, é mais irracional do que racional, e em todas as escolhas que faz há mais influência do inconsciente do que da razão (ou da lógica). Existe um conjunto de fatores inconscientes que influenciam o homem em todas as suas decisões.

Então, seu sobrinho, Edward Bernays (1891-1995), propagandista ou publicitário austro-americano, conhecido como “o homem que enganou a América”, utilizou as descobertas de seu tio sobre a natureza humana para manipular as massas e lucrar com isso. Basicamente, ele mostrou às empresas como poderiam fazer as pessoas comprarem algo de que não necessitam, associando produtos de consumo aos seus desejos inconscientes. Dessa forma, mudou o mundo de uma cultura de necessidades para uma cultura de desejos. Tudo isso para que as pessoas comprem coisas mesmo sem precisar e desejem novidades antes mesmo de terminarem de consumir o que já possuem!

Assim, a principal preocupação das pessoas deixou de ser a salvação, a cidadania, o bem, o amor, para se tornar o consumismo. Como disse um certo homem, a regra deixou de ser “agradar a Deus” para se tornar “estar sempre feliz” — felicidade essa atrelada ao consumismo. Em suma, hoje isso é praticamente uma regra, uma obrigação, restando apenas duas opções: dançar conforme a música ou ser excluído da roda (ser alguém ou ser ninguém). E nós, como seres sociais, temos o desejo natural de pertencer a algo (o problema do pertencimento). Tal como disse Pierre Bourdieu (1930-2002), sociólogo francês, talvez não exista “pior privação, pior carência, que a dos perdedores na luta simbólica por reconhecimento, por acesso a uma existência socialmente reconhecida […]”. O mundo é apenas um balão se comparado ao peso da consciência desse fracasso!

Nesta sociedade onde todos são obrigados a ser estrelas, cada um usa o combustível que tem ao seu alcance para brilhar. Beleza, corpo, crime e estupidez têm sido os combustíveis mais usados para alcançar esse objetivo (cumprir com essa obrigação social). Isso explica, em parte, o sucesso das redes sociais, em especial o TikTok. Afinal, “o ser humano faz tudo para sobreviver”!

Atualmente, as pessoas sofrem mais pelo desejo de ter algo do que pela necessidade daquilo. Muitas das dores que nos afligem são inventadas, desnecessárias e evitáveis! Não estou aqui para defender o clichê “o dinheiro é a raiz de todo o mal”. Não conheço nenhuma pessoa idônea que defenda isso! Também não estou dizendo que você deve parar de sonhar, até porque o sonho é, certamente, uma das coisas que mais dão sabor à vida! Quero apenas que você compreenda que pode sonhar, pode querer ter coisas da moda, ter um iPhone, ter fama, ser rico, ter uma namorada formosa ou um namorado endinheirado etc., mas não é verdade que para ser feliz — e muito menos para viver — essas coisas sejam necessárias! Isso é uma mentira do consumismo, assim como os supostos benefícios dos cigarros da marca que Bernays propagandeava!

Portanto, você não precisa ser rico(a)! Ter dinheiro para pagar as despesas necessárias para viver, ajudar os familiares e amigos (e não só) e desfrutar das maravilhas da vida (nos abraços e sorrisos verdadeiros, nas engraçadas conversas, no amor, no sabor dos alimentos gostosos, nas praias, nos rios, nas árvores, flores e animais etc.) basta!

Você não precisa ser um namorado endinheirado, apenas um namorado carinhoso, respeitoso, protetor, maduro, higiênico (claro), trabalhador, com objetivos e foco!

Não é necessário ser uma estrela! Você não precisa ser famoso(a), não precisa que todo mundo conheça você, não precisa escrever seu nome na história, embora isso possa ser positivo (se for no bom sentido). Estar rodeado(a) de pessoas que verdadeiramente o(a) amam e que você ama basta! Estar nos corações de pessoas próximas a você e de outras que ajudou basta!

Além disso, ser famoso não significa ser importante. Há famosos que não são importantes e pessoas importantes que não são famosas, como bem disse o filósofo brasileiro Mário Cortella. E, obviamente, entre os dois, o melhor é ser importante (para as pessoas que o(a) rodeiam e não só)! Mais ainda: ser o centro das atenções atrai todos os olhares para si, inclusive os de invejosos e criminosos! Talvez tenha sido com isso em mente que Albert Einstein (1879-1955), físico alemão, afirmou que o silêncio é um dos requisitos necessários para se alcançar o sucesso.

Você não precisa ser formosa e nem ter seguidores nas redes sociais! Ser higiênica, fiel, respeitosa, carinhosa, uma verdadeira companheira de vida, com objetivos e foco basta!

Você não precisa provar nada a ninguém, só precisa melhorar sempre que necessário e procurar ser uma versão melhor de si mesmo(a), uma vez que somos seres perfectíveis. O mundo está um inferno, e a comparação é uma das lenhas que mantém essa chama acesa!

É preciso compreender que cada pessoa é um mundo, portanto, não há uma fórmula de vida que se aplique a todos, como mentem os coaches! Também é necessário entender que grande parte da vida dos seus amigos das redes sociais — mostrada nas fotos e vídeos — é teatro e que aquele casal feliz ou “perfeito” também tem problemas em seu relacionamento, assim como ocorre no seu.

Você precisa compreender que tudo tem o seu tempo, que cada um tem o seu lugar! Precisa entender que é impossível e desnecessário ser ou estar sempre feliz (pelo menos da forma como a felicidade é comumente compreendida), que ninguém é perfeito(a) ou tem uma vida perfeita, como sabemos por experiência! É essencial entender que você não pode tudo (ter tudo ou fazer tudo), como a autoajuda mente, e que isso, além de impossível, é desnecessário! Diante da limitação da realidade, há apenas uma possibilidade: aceitá-la e ajustar seus desejos a ela, ou seja, “sonhar com os pés no chão”.

Vá atrás dos seus sonhos, mas sem esquecer-se das coisas que realmente valem a pena! Para mim, sendo crente, morrer não é problema; o problema é morrer sem Cristo. E se há uma outra questão principal no que diz respeito à vida e à morte, é viver uma vida que, em qualquer momento da partida, terá valido a pena, mesmo sem alcançar os seus objetivos.

Infelizmente, a vida é ‘‘ansensível’’ (para não dizer insensível). Você pode partir antes de alcançar seus objetivos, não importando os sacrifícios feitos e nem o quão bons ou grandes eles sejam. É triste, mas é a realidade!

Segundo alguns profissionais da saúde e estudos sobre a morte, nos últimos minutos de vida, as coisas que passam pela mente e pelo coração de uma pessoa são as lembranças dos momentos vividos, principalmente com aqueles que ama; o arrependimento por ter perdido tempo apenas atrás do dinheiro, deixando de lado as coisas que realmente valem a pena (como a família); e o desejo de ver e acariciar pela última vez as pessoas queridas.

Portanto, cuide das coisas urgentes sem se esquecer das importantes!

Em suma, quem nasce para brilhar é estrela. Você é humano(a), nasceu para viver e desfrutar das maravilhas deste mundo, apesar dos problemas que nele existem!

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