Cabinda: A condição social e económica dos artistas plásticos na visão do escultor Samuel Nkaya

Cabinda: A condição social e económica dos artistas plásticos na visão do escultor Samuel Nkaya

 

Samuel Nkaya, escultor, clama pela falta de clientes para a compra de arte. A partida de centenas de expatriados determinou a situação actual. Diz aos nossos microfones, que a grande dificuldade que os artistas enfrentam no enclave rico em petróleo é a falta de clientela. Desde o encerramento dos Campos de Malongo, levou para o regresso às suas terras de origem, centenas de expatriados.

Daniel  Jonas, conversou com Samuel Nkaya.

Qual  é a real situação que se vive?

Samuel Nkaya: Sou Presidente dos artistas plásticos a nível da província de Cabinda. Como escultor de artesanato, sobre a realidade das artes que se vive, de um tempo a esta parte, as coisas não têm estado a correr bem. Afinal de contas, grande parte dos clientes que nós tivemos, foram os expatriados, que trabalhavam ou trabalham nos campos petrolífero de Malongo. Se por um lado, a política de angolanização, foi um bem para os angolanos, para que quadros angolanos pudessem se inserir na área petrolífera e valorizar cada vez mais o angolano, por outro lado, paradoxalmente, para os artistas plásticos foi um défice muito grande. Com a ida deles, nós sentimos a pouca procura que existia no passado.

foto/Daniel Jonas

Apontando o dedo a várias peças, desenhadas por ele, numa loja na Avenida Primeiro de Maio em Cabinda, nas imediações da rotunda do Sussuciata, o presidente dos escultores de artesanato e artes plásticas em Cabinda vai mais longe. “Qualidade aqui não nos falta. Temos o pau rosa, o pau preto, o nkambana, o tschungu (…). Há uma diversidade de madeiras aqui. O que nos falta neste momento é a procura, mais clientes que possam consumir a arte. Infelizmente há muitas instituições estatais e privadas, que não têm cultura de decorar as suas instituições com material feito a nível local. Às vezes preferem importar, quando temos aqui material de bastante qualidade. Seria uma forma de ajudar, os muitos artistas que neste momento estão numa situação periclitante, razão pela qual, não vemos jovens a aderir a profissão, em querer aprender, porque vêm nos seus pais, momentos menos bons economicamente falando.”

Apesar de pouca procura, Samuel Nkaya, conta um segredo do seu sucesso: “Nós nascemos nas artes, e estamos a crescer nelas, eu pessoalmente tenho uma parceria com governo local há uma década e meia, ou seja há mais de 15 anos. Nós temos servido como instituição, temos estado a fornecer diversos materiais de escultura, pintura assim como de artesanato, ao governo da província de Cabinda, assim como aos visitantes de Cabinda.” Aponta aquilo que diz ser o seu alívio, mas lamenta que o governo tem dívidas, sem revelar o montante da dívida do governo de Cabinda, desde os tempos de Aldina da Lomba, a então governadora.

“Nós, temos a felicidade de ter o pulmão de África, a floresta do Mayombe, na qual podemos encontrar diversas madeiras de maior qualidade. Então, muitas entidades que cá vêm, preferem comprar o nosso material e serve também como cartão-de-visita, de várias entidades que o governo recebe.”

Que tipo de peças produzem em Cabinda?

Samuel Nkaya responde apontando o dedo às estátuas: “Produzimos uma diversidade de peças de esculturas, que representam a cultura local, angolana e africana. Desde a Mulher Mayombe, o Pensador, a Mulher Bakongo, a Mulher Africana, a Marimba e a Rainha NjingaMbandi, que é de Malanje, temos a Meia Lua, o Mapa de Angola, de Cabinda, e o Pau Sinza…”

“Hoje, muitos  jovens não querem aprender as artes plásticas. Há um défice muito grande. Isto periga o futuro das artes, ao nível da província e do país em geral, porque não se está a passar este legado às novas gerações. Tem que se gizar políticas dê incentivos à classe, que já produz, para que os jovens se revejam naquilo que os pais fazem”, propõe Samuel Nkaya.

Têm um mercado de Artesanato em Cabinda?

Nós temos um mercado, porque temos parceria com Cabinda golf, na base petrolífera de Malongo. Uma loja, na qual todos artistas plásticas depositam o seu material. Mas o problema, é que os artistas estão a sentir a saída em massa dos expatriados. Falta de clientela.

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foto/Daniel Jonas

Ainda em cabinda, o Observatório, conversou com Alexandre Kwanga, activista dos Direitos Humanos e Presidente da ADCHD (Associação para o Desenvolvimento da Cultura dos Direitos Humanos) diz que a política em Cabinda é desastrosa porque o governo não está aberto ao diálogo.

Alexandre Kwanga Nsita, afirma: “A política em Cabinda é desastrosa porque o governo angolano não consegue estender a sua capacidade de diálogo. Eles tiveram um entendimento entre o MPLA e a UNITA, mas quanto a Cabinda, o governo nunca teve as mesmas intenções com os movimentos de libertação do enclave.”

Apesar de algumas aberturas, desde a chegada ao poder do novo Presidente Angolano, João Lourenço, em Cabinda, a situação sobre liberdade de expressão, de informação e de manifestação continua a ser restringido.

“Está confirmado isso. No tempo de José Eduardo Dos santos nunca se ouviu a detenção de mais de 70 jovens em Cabinda, hoje com João Lourenço é possível” acusa o activista.

Questionado se existe a livre circulação de pessoas em Cabinda. Para Kwanga Nsito, “o grande cavalo de batalha de João Lourenço em Cabinda é a repressão e opressão. As forças Armadas em Cabinda continuam a movimentação de militares. Canhões todos os dias de um lado para outro. As lavras já foram ocupadas pelas FAA.  Aliás, as pessoas já não fazem lavras, no fundo da floresta com medo de serem mortos pelas Forças Armadas, porque em Cabinda tanto mulher como homem são considerados como FLEC.”

Em Novembro de 2017, João Lourenço fez a sua primeira reunião do Conselho de Ministros em Cabinda.

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