Direito à educação adiado: cidadãos construíram “escola” de chapas para salvar as crianças na comunidade

Direito à educação adiado: cidadãos construíram “escola” de chapas para salvar as crianças na comunidade

 

Agostinho GayetaNão haverá liberdade, nem democracia, sem uma educação de qualidade e emancipadora. O acesso à educação básica de qualidade para todos é uma das metas de Desenvolvimento do Milénio que 192 países deviam alcançar até 2015. Angola, apesar de ratificar o compromisso assinado em 2000 não conseguiu alcançar este desiderato e, embora já tenha passado quatro anos desde o término da data, está ainda longe de atingir esta cifra.

      Direito à educação adiado. Cidadãos construiram escola de chapas para salvar as crianças na comunidade

Problemas como a falta de escolas e de professores, por exemplo, são situações que ainda enfermam o sistema de ensino, deixando milhares de criança sem acesso à educação.

Na capital do país, Luanda, uma das cidades mais cara do mundo, a realidade arrepiante. Reclama-se a falta de infraestruturas, meios de ensino e de professores.

No município de Cacuaco, a norte da capital, a Associação dos Jovens Amigos de Cacuaco criou a escola Esperança do Saber com vista a ajudar o Governo a reduzir o elevado número de crianças fora do sistema de ensino.

A escola está localizada no centro do bairro Mayombe-B. Uma comunidade que carece de tudo, desde escolas, hospitais e outros infraestruturas sociais elementares para garantia dos serviços básicos à população.

São estas dificuldades sociais que motivaram o professor João Reis em 2016 a criar a Escola comunitária construída de chapas de zinco, num espaço de 40 metros quadrado, com 5 sala de aulas. A escola acolhe 842 alunos da iniciação à  9ª classe e conta com 13 professores.

Num ambiente de extrema alegria e tranquilidade, as crianças recebem os visitantes com canções e, a ocasião, é sempre oportuna para mostrarem o que aprendem na escola.

Com o surgimento da Escola Esperança do Saber centenas de jovens e adolescentes foram retirados das ruas onde muitos estiveram envolvidos em acções criminosas.

Emília Joaquim, Professora.

A garantia do acesso à educação e a retiradas dos jovens do mundo das drogas são apontadas pelo professor João Reis como alguns dos ganhos do projecto.

 “Os grandes resultados da implementação deste projecto, é que nós conseguimos retirar muita criança fora do sistema de ensino. A segunda questão é que nós conseguimos baixar o índice de delinquência. Muitos meninos com idades compreendidas entre 12 aos 14 anos fazem uso de drogas”.

João Reis, mentor do projecto e Director da escola

Para além dos aspectos didáctico-pedagógicos, a escola é responsável pelas mudanças sociais e comportamentais que ocorrem na comunidade Mayombe-B. Entre as actividades que suscitam mudanças  sociais constam campanhas de limpeza e higienização da comunidade. As palestras e acções de sensibilização contra o uso de drogas são outros recursos usados. Estas acções são aplaudidas tanto pela comunidade como pelas autoridades.

A prova de que a escola tem tido bons resultados é dada pelos alunos Joana André João e Manuel Henriques Andrade, da 3ª e 4ª classes respectivamente.

Cada dia que passa, o desafio torna-se maior. Todavia, o espírito patriótico motiva os homens do giz de tal sorte que com muito sacrifício conseguem garantir o acesso ao ensino à centenas de meninas e meninos da comunidade.

É igualmente movida pelo espírito patriótico e de missão que a professora Emília Joaquim, que lecciona as disciplinas de Língua Portuguesa e Educação Moral e Cívica, na 8ª classe, todos os dias se desloca à escola para “prestar o seu serviço social” com profissionalismo.

As condições em que as crianças são instruídas não são as mais adequadas. As salas de chapas de zinco aquecem em tempo de calor e podem soltar-se com fortes ventos e chuvas com o risco eminente de ferir as mais de 250 crianças que frequentam a escola no período da manhã.

Estas são as maiores preocupações do mentor do projecto que além das crianças tem sob sua responsabilidade 13 professores, remunerados com um subsídio de 10 mil kwanzas por mês.

E, é neste sentido que o mentor do projecto, João Reis, faz o seu apelo às pessoas de boa fé, no sentido de apoiarem a instituição para que se melhore as condições de ensino e de acomodação dos alunos.

Sem perder de vista a grandeza da iniciativa, o humanismo dos cidadãos e o exemplo de liderança que nos é dado, é necessário sublinhar que do ponto de vista Didáctico-Pedagógico, não estamos perante uma escola.

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