O SONO E AS EMOÇÕES

O SONO E AS EMOÇÕES

“Não espere por uma crise para descobrir o que é importante na sua vida” (Platão).

Esperança Gonga*ǀ O nosso corpo foi projetado de tal forma, que não pode funcionar sem um período adequado e sistematizado de repouso. “O sono é a principal garantia da nossa sobrevivência e longevidade”, afirma Teresa Paiva. Dormir faz parte da sobrevivência do ser humano. Uma noite bem dormida, é o suficiente para se ter um dia seguinte bem produtivo, e o sono, é uma das principais garantias para nos mantermos bem-dispostos, mais alegres.  Consegue-se ter uma capacidade de respostas às actividades do dia-dia num grau de gestão emocional bem maior. Contudo, nem todas as pessoas conseguem. Porquê? Uma das causas que interfere na qualidade do sono é a ansiedade. Geralmente, a ansiedade ocorre num quadro de preocupação antecipada e exagerada de algo por acontecer. A pessoa sofre, de forma angustiada, por situações que estão no futuro, e que por vezes não estão sob o seu controle. Quando se está muito ansioso o organismo liberta uma quantidade elevada de cortisol. O cortisol actua principalmente para manter o nosso corpo desperto e activo. Quando está em níveis elevados poderá facilitar o stress, o que não é bom. A imunidade baixa, a pessoa fica susceptível de contrair várias doenças, como por exemplo a covid-19, diabetes e tantas mais. Por outro lado, faz com que a produção da melatonina, hormona do sono (produzida na pineal, glândula do cérebro) seja reduzida. Para que haja a produção da melatonina, o corpo tem de libertar a serotonina, a hormona da felicidade e ou o aminoácido triptofano, que vem da alimentação. O facto é, sempre que o cortisol aumenta, a serotonina reduz. Reduzida a serotonina, a produção da melatonina, que permitiria o surgimento e qualidade do sono, não acontece. A consequência é a privação de sono. A privação do sono interfere no sistema neurológico, influencia na produção das hormonas responsáveis pelo bem-estar físico, mental e emocional. Nessas situações, o organismo produz várias hormonas que vão facilitar a irritabilidade constante, aumento do apetite, angústia, depressão. Promove um comportamento anti social, o indivíduo deixa de ser espontâneo, diminui a mobilidade física e cognitiva, causa dificuldade de concentração, dificulta o raciocínio, a perceção e a memória. Não termina o que começa. Além disso, a privação do sono causa desorientação. Segundo Teresa Paiva, especialista em medicina do sono, a privação do sono tem consequências nefastas.

Ela afirma que “as pessoas tendem, (…) a sofrer de insónias ou de depressão, e, consequentemente a tomar mais medicação”, e continua, dizendo que “em caso de insónia levante-se sereno, e ao voltar para cama resista à tentação de ver as horas, pois só piora a dificuldade em dormir”, aconselha Teresa Paiva.  A neurologista, acrescenta e enfatiza que “a privação de sono é como a cocaína: inicialmente dá prazer, mas depois tem consequências negativa” (para mais informações, ver o site: www.prevenir.pt). A Dra. Rosana Alves junta-se a este argumento, afirmando que “A privação de sono é a porta de entrada para as doenças degenerativas, pode ser também uma porta para o suicídio” (para mais informações, ver o vídeo: www.youtube.com/watch?v=eRFOxNf0uIQ&t=1512s).

Segundo a rádio francesa RFI, um estudo realizado em França mostra que o tempo de sono influencia o uso de óculos na infância. Os pais que colaboraram na investigação, forneceram, de forma regular, informações detalhadas sobre os hábitos de sono das crianças de 2 anos e os seus problemas de visão. O objectivo era detectar uma possível associação entre o sono e os distúrbios de refracção em crianças em idade pré-escolar. Os cientistas verificaram que existe uma associação entre a duração do sono e a exposição à luz captada pela retina, o que altera o ritmo circadiano e a necessidade de usar óculos ao longo dos anos. O resultado obtido pela equipa de Sabine Plancoulaine, demonstra que todos esses factores alteram o desenvolvimento ocular, provocando miopia, hipermetropia ou outros defeitos de refracção. O excesso de telas favorece ainda mais os distúrbios de visão, se associado ao sono. Trata-se de um processo cumulativo, explica a cientista francesa, que vem fragilizar ainda mais a vista (mais informações em: https://www.rfi.fr/br/podcasts/sa%C3%BAde/20210629-estudo-franc%C3%AAs-mostra-que-tempo-de-sono-influencia-uso-de-%C3%B3culos-na-inf%C3%A2ncia).

Quanto mais uso e mais próximos das telas, maior a probabilidade de ter problemas visuais. “ A concentração intensa e constante pode levar ao acúmulo de um produto químico potencialmente tóxico chamado glutamato. A substância é responsável por enviar sinais às células nervosas, no entanto, em excesso altera o desempenho de uma região do cérebro envolvida no planejamento e na tomada de decisões, o córtex pré-frontal lateral” (saiba mais em: https://olhardigital.com.br/2022/10/25/medicina-e-saude/cansado-do-que-como-trabalhos-que-exigem-concentracao-afetam-seu-cerebro/).  Por isso, quanto menos tempo e menos uso, menor será o dano, e assim evita-se a exposição ao stress

P/rm.

Segundo a neurocientista Rosana Alves, a morte neuronal e o nascimento de novos neurónios acontece enquanto dormimos. Rosana acrescenta que “quem não dorme bem pode morrer mais cedo ou envelhece rápido. O cérebro não dorme, ou seja, não para de funcionar enquanto dormimos. Pelo contrário, ele muda a sua actividade durante as horas de sono ou descanso. Enquanto dormimos, o cérebro liberta o líquido cefalorraquidiano que tem uma função protectora mecânica do sistema nervoso. Faz a limpeza dos resíduos metabólicos, permitindo com que as glândulas restaurem a energia dos sistemas biológicos”. Segundo a neurocientista, este líquido precisa de oito horas para fazer a limpeza e é durante a noite que ocorre a consolidação da memória (mais informações no vídeo (https://www.youtube.com/watch?v=eRFOxNf0uIQ&t=1512s). O descanso fortalece o sistema imunológico, contribuindo na proteção contra as doenças, ajuda na cura das feridas, de fracturas, dos deslocamentos, das infecções, do stress, dos traumas emocionais, do mau humor, e habilita-nos a estar em comunhão com Deus. Promove a eficiência física e mental, melhorando o aproveitamento académico. O sono atrasa o processo de envelhecimento, prevenindo as rugas. Descansar é bom e é de graça, e necessário para manter um nível óptimo de saúde e qualidade de vida.

Para promover e aumentar a qualidade de vida, sugere-se uma mudança de atitude, começando pela meditação. A meditação, ou confiança em Deus, permite desenvolver pensamentos optimistas ajudando no controle da ansiedade, tal como está escrito: “não andeis ansiosos por coisa alguma” (Filipenses 4:6). Fazer exercício físico, quatro horas antes de dormir para evitar a produção de hormonas estimulantes, como é o caso da adrenalina. Ouvir música, pois é terapêutica, mas, para ter uma noite bem dormida, evitar escutar músicas eletrónicas e ou barulhenta, para não estimular o cérebro. Escutar músicas clássicas, conforme a diversidade cultural, as mais calmas possíveis, prepara o corpo para um sono profundo e de qualidade. O apóstolo Paulo aconselha: “Irai-vos, mas não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira” (Efésios 4:26). Isto é, não dormir enervado, irritado, para não comprometer a qualidade de sono. É importante não levar o trabalho para cama, bem como as actividades do dia seguinte, principalmente o que requer muita carga mental. O mais adequado é apagar as luzes, pois estimula a produção de melatonina e a sua segregação no fluxo sanguíneo, provocando sono.

P/rm.

Uma boa produção de melatonina é importante pois esta hormona “(…) tem propriedades antioxidantes fundamentais para impedir que as células sofram alterações prejudiciais e, por conseguinte, doenças degenerativas e envelhecimento sejam desencadeadas” (Rosana Alves, em A neurociência da felicidade). Uma boa higiene alimentar é também importante, devendo-se evitar gorduras saturadas ao jantar, como pizza, fritos. O ideal é comer algo leve, de preferência saladas à base de vegetais e hortaliças, sob pena de causar desordem no sono.

A OMS, recomenda que se durma pelo menos oito a nove horas. É claro que isso poderá não acontecer com todos. Há exceções, claro! Como é o caso dos dormidores curtos, fruto da pré-disposição genética. Deus é tão maravilhoso! Colocou tudo à nossa disposição, precisamos somente fazer bom uso delas. Bons hábitos, mais qualidade de sono; mais longevidade! Diz a palavra de Deus, “vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, Eu os aliviarei” (Mateus 11:28). Jesus é a favor do descanso. Ele valoriza não só o descanso, como também o silêncio (Marcos 6: 31-32). Deus, não só se importa com o nosso estado físico, mas também com o nosso estado emocional. Uma mente aberta promove relacionamentos interpessoais e familiares saudáveis e duradouros.

*Psicóloga Clínica.

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