

Domingos da Cruz || A Filosofia em geral é muito interessante. Uma das minhas grandes paixões. Não só por ajudar-me a olhar a vida no quadro das grandes questões existenciais, mas também porque ela «treina para pensar em razões, em argumentos […].É quase como se fôssemos engenheiros conceptuais. Um engenheiro é muito bom a conceber espaços ou a ligar vários objectos de forma certa. [Dos] filósofos, espera-se, [que sejam] igualmente bons a ligar vários conceitos de forma certa», defende o jovem filósofo neozelandês, Adrian Currie.
O mapa conceptual da filosofia contemporânea tem um problema que eu gostaria de apresentar como um exemplo fecundo e desafiador. Até ao momento insolúvel. Os chamados dilemas gnosiológicos. Os dilemas gnosiológicos não são propriamente teorias. É sobretudo o reconhecimento dos limites da capacidade cognoscente do ser humano.
Quando a mente esbarra
São seis horas da manhã. Hora para que o seu filho/a ou sobrinha/o se arrume com vista a ir à escola. Neste dia ele/a não gostaria de submeter-se ao ritual dos dias anteriores, e conta ao encarregado que tem dor de dente.
Diante desta situação, o encarregado entala perante a incapacidade de saber a existência da dor e do consequente sofrimento hipotético. Conhecer. Verificar se tem dor de dente ou não. Esta dificuldade chama-se dilema gnosiológico.
Este “esbarramento” está na visão analítica do filósofo e não na compreensão do encarregado. Para o encarregado, o facto de lhe terem informado, sente-se seguro de que sabe sobre a dor.
Tradicionalmente, a Psicologia Cognitiva e a Teoria do Conhecimento, permitiram-nos saber que os pontos de partida do conhecimento são os sentidos: paladar, olfacto, audição, visão e tacto. Mas, no exemplo acima expresso, mesmo que o encarregado de educação terá recebido a informação, não se pode concluir que ele sabe efectivamente da existência real da dor de dente. Só a “vítima” da dor pode confirmar. E se ele não comunicou sobre o seu estado com verdade?!
Mesmo que o encarregado pense que sabe, em verdade não sabe.
Num segundo caso, parece tão simples quanto o anterior. Imagina-te em companhia dos teus amigos. Enquanto vocês degustam xícaras de café e chá, alguém pode solicitar a você para que defina o sabor do café. Ou mesmo do leite.
Olha que a lógica binária ensina que definir é expressar a essência de um ser. O que dirias como definição do sabor do café ou mesmo do leite para expressar o que os distingue um do outro.
Atenção: não se trata de definir café e chá. Ou café e leite. Trata-se de definir o sabor de ambos. A “conclusão inconclusiva” a que a filosofia do conhecimento chegou é que estas coisas que parecem banais, sobre as quais as pessoas pensam ter domínio, na realidade ainda não as compreendemos.
Talvez alguém perguntar-me-á qual é a importância de saber isso. A minha resposta é: não sei. Mas sei que é preciso saber e compreender. Talvez esta seja uma oportunidade e convite ao exercício da humildade e a abertura à aprendizagem recolhida e lenta, no lugar da tagarelice.