A compreensão do Eu à luz da experiência filosófica

A compreensão do Eu à luz da experiência filosófica

[Pt| rmc]
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Muata Sebastião| Explorando os espaços que a vida me concede, contemplando tudo que me rodeia e observando os seres iguas a mim percebi que, existe uma vontade louca em resistir ao irresistivel, não por uma simples vontade da negação , mas por não entenderem a dinamicidade com que a vida se constroi. Resistimos à vida, quando ela não depende de nós, mas nós dela.

Vivemos numa sociedade em que aos poucos temos acompanhado certas mudanças mesmo que muitas delas não tragam grandes sinais de desenvolvimento social e/ou político, mas elas estão a acontecer e devemos aceitá-las não para nos tornarmos reféns, mas a partir delas criarmos uma estratégia de acção e de luta contra a ignorância que conduz a auto-negação do Eu social, político, religioso, etc.

A experiência filosófica é fundamental para compreendermos a importântcia das mudanças que ocorrem em  nossas sociedades e em particular em nossas vidas e com base nela que nossa reflexão será feita, esperando que isso sirva para a compreensão do Eu que se desenvolve e susceptível  à mudança.

As mudanças fazem parte do nosso dia a dia e de qualquer paradigma que tende para o progresso individual ou colectivo. Ninguém foi feito para ser o mesmo.

Constantemente somos chamados a assumir uma postura real para dizer sim ou  não. A nossa vida é feita de perguntas e respostas, todos os dias somos convidados  a fazer alguma coisa, e isso é uma autêntica mudança. Mudamos porque a nossa vida é corrida, não somos os mesmos como éramos há 5 anos e destas mudanças ninguém escapa porque a vida se consome a medida que o tempo vai passando, e a mudança acontece no tempo.

Neste peritatus cognitivo encontramos o filósofo Heráclito (1) que para ele “tudo flui, nada persiste nem permanece o mesmo. Tudo se faz por contrastes, completo e incompleto, harmonia e desarmonia, afirmação e negação, ordem e desordem, e da luta dos contrastes se faz a mais bela harmonia”.  O autor faz-nos entender como as mudanças nos ajudam a encarar o mundo e perceber, sobretudo como a nossa perspectiva do mundo é determinante para interpretarmos as mutações por meio da inteligência humana, embora algumas vezes e fruto das mudanças cedemos nossa liberdade aceitando o determinismo e a alienação resultante da vontade alheia.

 

A matrix, produto da   inteligência humana, representa o sistema em que todos estão envolvidos, alienados e escravizados, tanto um quanto o outro retiram do homem o poder da autonomia fazendo-lhe crer na possibilidade de uma força externa que o pode orientar enquanto o mesmo repousa nas mãos do Morfeu.                                                                                                                             martin-buber-eu-e-tu-1-638 (1)martin-buber-eu-e-tu-1-638 (1)

Na tentativa da luta pela liberdade surge o personagem neo despertador que, acreditando na mutação das coisas e no poder da auto descoberta faz entender ao homem que o essencial é que ele “conheça-se a si mesmo” não por frequentar a academia de Delfos, mas por entender que pela autoconsciência ele torna-se o protagonista das mudanças, um legado socrático que se tornou o modelo de pessoas destemíveis e que encaram as mudanças como algo normal em suas vidas.

Com este exercício introspectivo acredita-se que o ser humano possui um espírito que, a priori, representa a capacidade da busca   pela renovação e aí dá-se início da batalha pelo novo, retractando as nossas constantes lutas por dentro e por fora pela boa consciência e racionalidade, isto é, a superação da nossa própria inteligência.

Assim também desperta Sócrates em sua geração com um espírito contestador e seus combates mentais, sendo perseguido e dando notoriedade a filosofia. É a mudança que nos acompanha e a podemos perceber se, por exemplo fizermos a analogia com o mito da caverna em que as percepções da maioria se limitam ao que observam de forma acrítica, e somente os que provam a luz da verdade com racionalidade desfrutam da verdadeira realidade.

Essa é a trajectória da vida humana, com a qual devemos aprender a encarar a vida e interpretar os sinais dos tempos.

Para Heráclito, “a vida considerada como algo imutável é uma ilusão”. Para ele, “tudo se movimenta, nada se fixa na imutabilidade. Apesar de nossos olhos nos darem a impressão da (estaticidade) das coisas, a realidade é fruto da mudança. Ou seja, a única realidade que existe é a mudança”. O “Logos”, para a filosofia heraclitiana, é o princípio de inteligibilidade, é a razão, o princípio maior da unificação, é a mudança e a contradição que se harmonizam.
Mais uma vez entra em cena a força da inteligência humana que sendo ela importante para a compreensão das transformações que ocorrem, aduzem-nos ao retorno interior e pessoal de modos a compreender a realidade, e mais uma vez Sócrates reaparece com o seu “conhece-te a ti mesmo”, e assim, seguem-se as batalhas entre as nossas crenças e o saber estabelecido, dando início ao momento de crise ou conflito existencial e que na definição do cogito ergo sum somos obrigados a tomar uma atitude humildemente filosófica que de forma singular te faz entender que “só sei que nada sei”, ou seja, um convite ao esvaziamento quotidiano de si e procurar validar ou estabelecer racionalmente os valores e a visão do mundo —  mundividência.

[Pt| rmc| Martin Buber. Filósofo]
[Pt| rmc| Martin Buber. Filósofo]
A busca pela estabilidade pessoal, política, social, económica, é no fundo o iniciar da luta para a construção da mundividência que traduza o que a vida é na realidade, é neste nível que conseguimos perceber que a filosofia alcança   nível intelectual e sistemático com fundamentação racional.

Finalmente a utilidade da filosofia é enxergada quando abrimos os olhos do nosso coração e abandonamos o velho homem com suas corrupções e enganos e demos lugar a um novo homem, movido por um espírito novo que deseja a liberdade, a felicidade e paz para todos. Aqui poderíamos apelar todas as formas de entendimento humano e as heranças da tradição cristã, mas concretamente as expressões, “ conhecereis a verdade e a verdade vos libertará (João. 8:32) ”, mas a verdade só liberta quando temos consciência dela e ter consciência dela implica conhecer as razões das nossas descobertas pois, só isso permite a ataraxia e o gozo da plena felicidade summum bonuma libertação do Eu — que na extensão do seu gozo percebemos que a vida é dinâmica e não podemos permitir que o tempo nos consuma, mas acreditar que é no tempo que as mudanças acontecem.

A realidade nunca é a mesma e as pessoas também não, todos sujeitos às mudanças, somos resultado dos “postos”.

Aceite à mudança e deia um rumo diferente a sua vida.

 

Nota

(1) Heráclito foi um filósofo pré-socrático que viveu em Éfeso, cidade da Grécia Antiga, situada na costa ocidental da Ásia Menor, por volta dos anos de 535 à 475 a. C.

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