Angola: pseudoprofetas entre a promiscuidade, abusos e violações(1/3)

Angola: pseudoprofetas entre a promiscuidade, abusos e violações(1/3)

 

 

Proliferação de seitas. Falsas profecias em nome de Deus. Amor  à mamom para encher os bolsos.

Emanuel Matondo│Ouvimos cada vez mais, em toda parte do mundo, histórias sobre falsos médicos, falsos advogados ou falsos professores e, novamente, falsos funcionários, falsos cobradores de impostos ou falsos oficiais de justiça e trabalhadores fictícios, como outros falsificadores, que são frequentemente qualificados como usurpadores de documentos que acabam caindo no filé da justiça e das investigações policiais. Esses grandes bandidos, também usurpadores de títulos, causam danos incalculáveis e o número de vítimas difíceis de contar.

No entanto, menos se ouve sobre uma categoria de outros falsificadores: falsos pastores e falsos profetas. Se falamos de falsos pastores ou falsos profetas, ou de outros charlatães, que roubam em nome de Deus, e usurpam títulos académicos como honorários, isso costuma acontecer nos quartos de casas e menos em público.

Alguns desses pastores falsificadores apegam-se a títulos académicos, ou de alta autoridade religiosa de outras confissões e autoproclama-se imediatamente de «doutores», sem sequer, por vezes, terem concluído o curso necessário para ter acesso a esse título académico ou o título honorário de «bispo» ou «arcebispo». Depois, vemo-lo brilhando com arrogância como os famosos «Sumos Sacerdotes» do passado, que se tornaram mestres em tudo, cujo comportamento é denunciado aqui e ali na Bíblia.

Actualmente, denunciar os usuários de falsificações e, especialmente, todos esses pastores que irritam as nossas sociedades, é um assunto tabu, especialmente nas sociedades africanas, para focar no nosso continente. Na maioria dos casos, os denunciantes dos abusos dessas falsificações sectárias – muitas vezes vítimas – tornam-se facilmente más pessoas, enquanto que os falsificadores são protegidos pela massa de fanáticos, seguidores fiéis e cegos dos bandidos.

Por que chegamos lá? Porque muitas vezes os autoproclamados “pastores” acreditam estar acima das leis e das normas estabelecidas, mesmo na Bíblia, apresentando-se como semi-deuses na Terra, desde que tenham seguidores fiéis e fanáticos, mesmo dentro das instituições estatais.

Nas sociedades africanas, as vozes começam pouco a pouco a gritar mais forte contra as derivas e o  abuso de poder, contra esses líderes de seitas religiosas que maltratam, reprimem o povo e até não respeitam as regras. No entanto, pouco se fala sobre o abuso da liberdade de religião por aqueles que normalmente tinham mais interesse em protegê-lo de perversões e promiscuidades.

A Bíblia e a advertência sobre os falsos profetas e falsos doutores

Na Bíblia, Jesus Cristo advertia os seus discípulos, desde as primeiras horas, para tomarem cuidado com os falsos profetas. O apóstolo Paulo, por sua vez, alertou todos os cristãos não apenas contra falsos doutores e profetas, mas também indicou como identificar os hereges que virão depois de Cristo, dizendo: “E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles. Porque os tais não servem a nosso Senhor Jesus Cristo, mas ao seu ventre; e, com suaves palavras e lisonjas, enganam o coração dos símplices.” (Romanos 16: 17-18).

Enquanto que Jesus Cristo, mesmo não tendo fundado uma igreja na sua época, insistia no arrependimento como uma mensagem central para trazer a salvação humana, os falsos profetas e auto-proclamados “doutores da lei” hoje em dia põem, em primeiro lugar, a aquisição de riqueza, que alguns descrevem como “o evangelho da prosperidade”. Para os pregadores heréticos deste evangelho errado, “enriquecer-se cuando pregando a palavra ou em nome de Deus é uma bênção celestial” e, segundo a sua interpretação, “a pobreza é uma maldição”ou “muitas pessoas são pobres porque permanecem em pecado”. Ao apoiar esta falsa tese, os falsos profetas  sugerem que a pobreza abjeta que afeta, por exemplo, quase um bilhão de pessoas nos nossos países africanos – embora rica em recursos naturais – não é uma consequência directa e indirecta dos líderes iníquos que desviam fundos públicos e transferem ilicitamente cada ano para o exterior centenas de bilhões em capital, em detrimento do desenvolvimento deste continente. Frequentemente, vemos esses falsos profetas à procura de mais proximidade com os homens no poder, enriquecidos ilícitamente, ou das próprias pessoas que produzem pobreza no nosso continente, como em todas parte do mundo. Esses falsos profetas criaram a sua própria linguagem, considerando muitas vezes os homens fortes do poder, os “parceiros” das suas respectivas seitas religiosa, não importando se essa figura politíca é conhecida  na opinião pública como “criminosa de colarinho branco”. Para ganhar esse tipo de “parceiros da fortuna roubada”, que discretamente passam cheques em dólares americanos, esses falsos profetas lutam para garantir o seu estômago. É o dinheiro que conta mais para eles. Além disso, eles insistem e pressionam os seus seguidores a pagar obrigatoriamente e regularmente os dízimos, ou o décimo dos seus salários ou subsídios, para encher os bolsos que expõem posteriormente ao público como riqueza própria, acumulada duma maneira fácil, mais, eles justificam como uma “bênção divina”.

Nalguns casos, observa-se também os falsos profetas a praticar o ocultismo, usando rituais satánicos rejeitáveis e indignos, por supostamente realizarem “milagres de cura de doenças incuráveis” ou exorcizarem para “expulsar os demónios dos corpos”. Ou ainda, para “purificar um indivíduo amaldiçoado/enfeitiçado”, práticas que, frequentemente, acabam em danos à integridade física ou na morte das pessoas envolvidas. Eles prometem curar tudo, que as vítimas depois não hesitam em ser financeiramente muito generosas com esses falsos profetas e falsos doutores, que na maioria dos casos desmascaram-se como verdadeiros charlatães. Vimos casos em que alguns falsos profetas afirmavam curar HIV/AIDS, outros ainda vendiam soluções produzidas à base de azeite para os seus seguidores e a um preço exorbitante com o único objectivo de se enriquecerem. Para muitos falsos profetas, a encenação pública de milagres de cura é a acção principal para atraírem e enganarem as massas. No entanto, a Bíblia diz que “o arrependimento é o maior milagre” que pode acontecer.

Os falsos profetas e falsos doutores são tão corruptos, que perecerão todos”

Não é essa mesma Bíblia que chama também todos os que acreditam nela, “a buscar primeiro o reino e a justiça de Deus”? Para os profetas de nosso tempo, na maioria falsos, eles procuram primeiro a prosperidade e a riqueza, e é aí que todos os problemas começam. Porque, no sentido de alcançarem os seus objectivos, para esses falsos profetas e falsos doutores, todos os meios são bons e permitidos, como por exemplo: provocar divisões de famílias e casais, acusar falsamente crianças e pais de bruxaria, difamar membros da família em assuntos fora da sua competência, praticar perjúrio, às vezes incitando publicamente o ódio religioso contra outras crenças, levando as crianças a se rebelarem contra os seus pais e mães.

foto/rmc/ As velas são usadas para inúmeros rituais…

Em certos países de África ou da América Latina, mais precisamente, também observamos como os falsos profetas participam activamente nos diferentes crimes, incluindo no crime organizado transnacional, como o tráfico de seres humanos, um  meio pelo qual eles se tornam promotores da imigração ilegal para os países ricos. Essa actividade é a mais lucrativa, trazendo-lhes centenas de milhares de dólares americanos. Além disso, vemos os falsos pastores a actuar na lavagem de dinheiro e na fuga de capitais, se não estiverem directamente envolvidos no grande negócio de importação de mercadorias e produtos do exterior,  isentos de taxas alfandegárias. Alguns desses falsos profetas tornaram-se grandes empresários e são identificados sem vergonha como “os homens mais ricos do planeta”, ou bilionários. Assim, muitos deles tornaram-se também, ao longo do tempo, “personalidades mais influentes” nas sociedades, usando os seus próprios aviões particulares luxuosos para voar pelo mundo, enquanto seus seguidores fanáticos os celebram muitas vezes como grandes celebridades do showbusiness.

Todos os falsos profetas e falsos mestres, pregadores heréticos do famoso “evangelho da prosperidade”, praticam mais o culto do dinheiro do que a busca do reino dos céus. Eles convidam, não à glorificação de Deus, mas de homens famosos disfarçados “pastores”. Alguns desses falsos profetas africanos são classificados como “os 10 pastores mais bem vestidos da África”, e a multidão de seguidores cegos aplaude. É a total perversão do Evangelho, se sabemos que Jesus Cristo nem sequer tinha o seu próprio cavalo para cavalgar, e para entrar em Jerusalém, o filho de Deus teve que pedir um emprestado. Por que chegamos a essa depravação? Por causa da ganância de alguns e do pensamento mercantilista de outros, muitos deles procurando sempre uma vida fácil. E com a palavra de Deus, é fácil atrair pessoas, é só preciso ter uma linguagem lisonjeira. Além disso, o apóstolo Pedro alternou-nos, como os seus outros colegas:  “E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição. E muitos seguirão as suas dissoluções, pelos quais será blasfemado o caminho da verdade; e, por avareza, farão de vós negócio com palavras fingidas; sobre os quais já de largo tempo não será tardia a sentença, e a sua perdição não dormita.” (2 Pedro 2:1-3) „Mas estes, como animais irracionais, que seguem a natureza, feitos para serem presos e mortos, blasfemando do que não entendem, perecerão na sua corrupção, recebendo o galardão da injustiça; pois que tais homens têm prazer nos deleites quotidianos; nódoas são eles e máculas, deleitando-se em seus enganos, quando se banqueteiam convosco; tendo os olhos cheios de adultério e não cessando de pecar, engodando as almas inconstantes, tendo o coração exercitado na avareza, filhos de maldição; 15 os quais, deixando o caminho direito, erraram seguindo o caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o prémio da injustiça (2 Pedro 2:12-15).

O caso de Angola

Sim, ouviste bem: eles vivem na corrupção. Existem, no seio do povo de Angola e de África, falsos profetas, e também há falsos mestres ou doutores que introduziram “seitas perniciosas” e negam o Mestre, Jesus Cristo, que os redimiu do pecado, porque eles adoram demais o Mamom, isto é, o dinheiro ou o salário da iniquidade. Esses falsos profetas e falsos doutores são “brutos”, abusam dos seus seguidores que muitas vezes se encontram numa situação de fraqueza e dificuldade, seja económica, social ou psicológicaa. «Por meio de palavras suaves» e «falsas profecias, eles enganam as suas vítimas e colocá-las sob seu controle total para depois aproveitar delas financeiramente». O seu modo operacional ou de agir é idêntico:dividir para melhor dominar a sua vítima. Para os falsos profetas, o objectivo é o mesmo em todos os lugares, de acordo com as observações feitas até hoje em dia: separar a vítima da sua família e dos amigos e levantá-la contra seus procriadores. Eles são verdadeiros manipuladores e sempre com um discurso antisocial.

Cada vez mais, em vários países, o problema da proliferação de seitas religiosas torna-se preocupante, devido a certos abusos e à sua capacidade de criar conflitos nas comunidades e de destruir os laços familiares, causando assim danos inimagináveis, se não irreparáveis.Em Angola, muito tempo sob o domínio do comunismo severo e anti-religioso, as igrejas tradicionais eram apenas toleradas e não gozavam de status completo para exercer plenamente a liberdade de religião. As igrejas estabelecidas, católicas e protestantes, mantinham um perfil discreto e eram impotentes diante das interferências permanentes do “Estado-partido” – o MPLA – nos assuntos religiosos cujo objectivo foi, desde então, satisfazer os seus interesses políticos, que constituíam e continuam a ser caracterizados como uma violação grave da liberdade de religião em Angola.

Não, não é apenas o governo que viola a liberdade de religião, mas também as seitas religiosas, que muitas vezes despertam o ódio contra outras religiões. De acordo com uma doutrina errada, todos os membros da sociedade, que não pertencem ao dito grupo sectário, passam a ser considerados por aquelas seitas como não-convertidos. Essa é a fonte da intolerância que essas seitas expõem, o que suscita os conflitos nas várias sociedades a ponto de se tornar uma fonte de tensão inter-religiosa. No caso das seitas religiosas surgirem das igrejas protestantes, às vezes vemos os seus líderes, do púlpito da pregação, demonizarem as outras religiões monoteístas, atacando as outras igrejas-mãe (católicas e protestantes, ortodoxas etc.), embora as três, cristianismo, judaísmo e islamismo, sejam todas religiões abraâmicas, “apareceram na herança de Abraão”. Muitos dos líderes dessas seitas que não têm capacitação teológica avançada e, alguns deles, nem sequer concluíram ou terminaram o ensino médio, brilham com ignorância sobre as três religiões da herança de Abraão, este último também chamado “o Pai da fé”. No que diz respeito a Angola, muitos grupos religiosos sectários, que por exemplo ainda demonizam o Islão, também são reforçados pelo comportamento repressivo do governo angolano em relação a essa religião abraâmica monoteísta, rejeitando-a e, até, recusando-se a reconhecê-la neste país. Esta situação cria problemas.

Nota: continua a próxima semana.

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