Por Domingos da Cruz || Segundo Nelson Mandela, “se aquele que detém o poder nega a tua liberdade, então, o único caminho para a liberdade é o poder”. Neste sentido, gostaria anunciar que diante de uma ditadura feroz, escrevo este texto como parte de uma ferramenta de trabalho para destruir a ditadura e evitarmos o nascimento de um novo regime autoritário em Angola. Um novo regime autoritário depois deste é possível, por aquilo que vimos na pseudo-oposição, no exército e brigas pelo poder entre os membros do grupo hegemónico.
Mas depois dos indignados triturarem o regime e colocá-lo nos livros de história, deverão assumir democraticamente o poder, com vista a construírem uma sociedade aberta.
Quando os indignados decidem lutar pacificamente, não podem deixar de ser realistas. Ninguém ama a morte. A luta pela liberdade é sinal claro que os indignados amam a vida, mas uma vida autêntica. Uma vida real e não mera ficção apresentada nas telas, jornais e rádios da ditadura. Os membros das forças democráticas não se devem deixar intimidar e destruir por perguntas estúpidas e covardes como: você não tem medo de morrer? Não gostas da tua vida? Claro que o revolucionário é a pessoa que mais ama a vida. Mas ama a vida com dignidade. Ama a vida em que todos tenham o básico para viver com tranquilidade.
Tomar consciência do realismo na luta para remover a ditadura, pressupõe que os democratas saibam que: 1. Infelizmente as ditaduras na sua queda levam consigo vidas; 2. Lutamos não porque amamos a morte. Luta-se porque amamos a vida, mas a vida com abundância e plenitude. Lutamos porque somos radicais no amor a nós e a comunidade.
Aqueles que escalam as cataratas e montanhas para a liberdade, devem olhar para a história e perceber que a escolha pela luta pacífica funcionou em muitas partes do mundo. Temos os seguintes exemplos de quedas de ditaduras de forma pacífica desde 1980: Estónia, Letónia, Lituânia, Polónia, Alemanha Oriental, Checoslováquia, Eslovénia, Madagáscar, Mali, Bolívia, Filipinas, Nepal, Coreia do Sul, Chile, Argentina, Haiti, Brasil, Uruguai, Malásia, Tailândia, Bulgária, Hungria, URSS, etc.
A queda destes regimes, permitiu o avanço das liberdades, diminuiu de maneira incomensurável o sofrimento das vítimas e promoveu mais justiça social. Isto não significa que construíram sociedades perfeitas depois do derrube do poder, mas sim, progrediram para o melhor.
Um dos sintomas fundamentais da ditadura é que as pessoas são atomizadas. Isoladas e incentivadas a ter o falso sucesso individual (reduzido ao material mesquinho, mesmo a custa de roubo, corrupção e mortes) sem olhar para o sofrimento do outro.
Uma das funções das forças democráticas é promover espaços de diálogo, unidade e solidariedade que permite forjar uma massa compacta com coragem e que acredite no seu potencial de atingir o cume da montanha da liberdade política e outras liberdades típicas da democracia.
O resultado de pessoas desunidas é claro: a população torna-se fraca, não tem auto-confiança, e é incapaz de resistir. As pessoas estão, frequentemente, muito assustadas para compartilhar seu ódio à ditadura e seu desejo de liberdade, inclusive dentro da família e amigos. As pessoas estão muitas vezes demasiado aterrorizadas para pensar seriamente em resistência pública. Em todo caso, de que valeria? Em vez disso elas enfrentam sofrimento brutal e um futuro privado de esperança.