A imprensa e a tese sobre democracia no Reino do Kôngo

A imprensa e a tese sobre democracia no Reino do Kôngo
Batsikma capa
[F/rmc & Facebook de P. Batsikama]

Por Redacção || O Observatório da Imprensa e da Comunicação/OI, tem em sua posse, uma crítica científica demolidora, ao livro, “Lûmbo: Democracia no antigo reino do Kôngo”.

A crítica foi feita por um dos articulistas do OI, Nuno Dala. https://observatoriodaimprensa.net/articulistas/nuno-dala/. O título do proponente da crítica é:   “Havia de facto Democracia no Reino do Kôngo?”. Na margem do texto que temos, pode-se ler um comentário com seguinte dizer: “Refutação à tese de Patricio Batsîkama”.

No essencial, a refutação é mesmo refutação na forma e de facto, uma vez que o texto deixa claro que tal tese, não passa de uma farsa, como atesta o seguinte juízo: “O autor não apresenta provas e muito menos explica em que medida é que havia efectivamente um poder executivo, um poder legislativo e um poder judicial no Reino do Kôngo, organizados em matriz democrática”. Vai mais longe ao afirmar que “a promoção da tese insustentável de que o antigo Reino do Kôngo era uma democracia, mais do que se supõe, é uma manifestação do etnocentrismo de que padecem muitos angolanos de origem bakongo [etnia da qual pertence o autor do Lûmbo], que insistem em lógicas e narrativas duma corrente de elevação dos bakongo à categoria de “etnia ímpar”, uma espécie de “gregos da África subsariana”.

Na construção desta farsa, a imprensa e com ajuda de jornalistas da etnia que se quer elevar ao nível de “gregos da África subsariana”, para usar as palavras de Nuno Dala, contribuiu para passar a ideia de que efectivamente havia democracia no reino do Kongo. Vários títulos sobre o livro foram divulgados no Jornal de Angola e na Agência Angolana de Notícias/ANGOP.

LUMBO
[F/rmc]
Títulos da Angop:  “Historiador publica livro “Lûmbo: A Democracia no Reino do Congo””. Quando lê-se as linhas que sustentam o título, Patricio Batsikama afirma que  “pretendo informar aos académicos que existiu de facto democracia no antigo Congo (e nas Lûndas, Matâmba/Ndôngo), logo, podemos começar a pensar nos pilares socioculturais [em] que se devem fundar a nossa Democracia”. Este comentário e a obra no seu todo, indicam que por detrás desta tese existem outros propósitos invisíveis, mas possíveis de descortinar. Como diz Michel Foucault, na sua obra, “A ordem do discurso”, nem sempre os que detêm o monopólio da enunciação, o que lançam para fora é o querem dizer e atingir. Ainda na mesma agência de notícias seguem-se outros títulos: “Historiador angolano apresenta três obras no Brasil”, e a notícia refere-se também a obra que foi criticada na sua espinha dorsal; “Angola: Historiador defende democracia assente nos pilares socioculturais.”; “Historiador defende que Reino do Kôngo foi fundado por 12 clãs”; “Historiador publica livro “Lûmbo: A Democracia no Reino do Congo””.

Quanto a contribuição do Jornal de Angola na “construção da tese de que no antigo Reino do Kongo havia democracia”, basicamente em sintonia com a Angop, foi reproduzindo os textos tal como foram publicados, desde Abril até Agosto.

BATSIKAMA
Patricio Batsikama, autor da obra ” … Democracia no antigo Reino do Kôngo”. [F/rmc].
Não há problema em divulgar tal tese, mesmo que seja falsa, absurda ou os propósitos são obscuros, mas, uma vez que o autor trouxe algo sobre o qual não se debate, é importante ouvir outros especialistas. A imprensa não questionou se outros historiadores subscrevem tal tese. Devia questionar igualmente até que ponto alguém que não é especialista em teoria da democracia, tem autoridade suficiente para tal tese, mesmo que fossem questões somente para levar à debate e no espaço da troca de razões como diria J. Habermas, a fim de gerar o esclarecimento, conforme defende E. Kant. Mesmo não sendo especialista em Filosofia Política ou Ciência Política, é possível sim, que alguém crie e traga abordagens críticas sobre a área, mas não se deve excluir o debate.

A crítica de Nuno Dala ao livro, tem sete páginas e o OI publicará no dia 2 de Janeiro. Todos estão convidados a participar no debate, em particular o autor de “Lûmbo: Democracia no antigo Reino do Kôngo”.

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