O equívoco no pensamento angolano sobre negociação política

O equívoco no pensamento angolano sobre negociação política

JES CSP
[Pt| rmc| JES: O ditador]
Por Domingos da Cruz || Em Angola existem basicamente três correntes que visam mudar o quadro actual, da ditadura para a democracia.

Uma é defendida por Marcolino Moco, na sua obra, “Angola: a terceira alternativa”. O autor afirma que é um método de negociação proposto a todos os actores políticos e à toda a sociedade civil. Para Moco, para que Angola possa ultrapassar o quadro actual, é necessário que o Presidente do MPLA, José Eduardo, convoque todas as vontades nacionais com vista a discutirmos o futuro do país. Classifico a proposta de Moco como uma negociação vertical. É vertical porque a iniciativa parte de cima para baixo.

Mais recentemente, foi criada uma plataforma informal da sociedade civil, que lançou o “manifesto pela concertação nacional”.O manifesto pela concertação multissectorial de Angola, propõe que o Presidente desça do seu pedestal e dialogue com a sociedade com vista à encontrarmos uma solução viável e favorável para todos, mas com garantias de que não serão responsabilizados por nenhuma barbaridade protagonizada no passado. Esta proposta podemos chamá-la por negociação horizontal. É horizontal, porque parte de baixo para cima, convocando todos para que no memento da negociação, hipoteticamente estejam na mesma condição e valerá somente a força do argumento e da racionalidade.

Tal como foi afirmado acima (no livro), a negociação serve para outro tipo de conflitos, mas não para detonar ditaduras. Pelo que, tanto a negociação horizontal quanto a negociação vertical são inviáveis para o propósito deste texto ─ dinamitar e detonar a ditadura ─ reservando-a o lugar ideal: o escombro da história negativa. São ainda inviáveis porque têm um carácter a-histórico. Negociação iiExplico: o grupo hegemónico e o seu chefe nunca dialogaram seja com quem fosse quando estão em vantagem relativa. Hoje, tal vantagem fortaleceu-se e parece atingir um nível mais ou menos absoluto, pelo que não é neste contexto de “domínio total” que poderá negociar. Basta compulsar cuidadosamente a história de Angola para perceber em que circunstância José Eduardo parou para negociar com Jonas Savimbi e mediadores internacionais do nosso processo político-militar.

Estas correntes são um alerta para as forças democráticas que aderiram ao desafio político, ao direito à revolução como solução pacífica. É um alerta porque permite-nos saber que nem todos concordarão connosco. Nem todos deixarão de cooperar com o regime. Isto verificar-se-á nas mais variadas esferas. Por isso, há que contar com as forças daqueles que acreditam no direito à resistência que dá voz e vida as ruas, ruelas e avenidas como veia segura para a queda; fim do autoritarismo e evitar o nascimento de nova ditadura, que está sempre à espreita, basta analisar o comportamento daqueles que não detêm o poder governante hoje!

Nota: extracto do meu novo livro, “Ferramentas para Destruir o Ditador…”

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