Crisóstomo Ñgala & Tomás Júnior* │O futuro da Humanidade depende dos ativistas. Segundo algumas previsões, o destino do ser humano na Terra passa pelo avanço da tecnologia, da ciência, da genética, da inteligência artificial, do aperfeiçoamento do algoritmo e demais descobertas inteligentes relevantes. Yuval Noah Harari, em Homo Deus: uma breve história do amanhã, termina este livro fazendo perguntas essenciais e existenciais, entre as quais uma delas levou-nos a, também, pensar no próximo passo da evolução humana: ‘o que é mais valioso – a inteligência ou a consciência?’ A humanidade caminha a um ritmo em que não basta a inteligência ou a consciência de que somos homo sapiens-sapiens, atualmente, vivendo na era das pós: pós-graduação, pós-verdade, pós-modernidade, pós-estruturalismo, pós-capitalismo, pós-democracia.
Se por muito tempo vigorou a ideia de que, por não sermos seres sencientes, somos os únicos racionais, assim, autoproclamando-nos muito mais inteligentes, em dias atuais, os factos demonstram que precisamos ser mais: mais ativistas, mais cientes e menos inocentes da realidade. O futuro da humanidade depende de cientes. Ciente, este é um aforismo e jargão popular angolano adotado para referir quem vive de convicções fortes, quem não se rende nem se vende a preço de banana ou em troca de milhões. Na acepção adotada, somente o ciente sabe quem e o que é. Para muitos, o ciente é um alienado, um comparável ao cínico Diógenes Laércio. Aqui, ciente significa o que se autoempodera, busca e causa mudanças, o que busca equilibrar determinação com imaginação, malícia, humor, timidez e firmeza.
As implicações éticas e políticas das mudanças e transformações sociais que ocorrem só poderão ser contidas, reduzidas e equilibradas com o engajamento de pessoas que tenham atitude, sejam capazes de pressionar, de divulgar todas as merdas e defendam o que não é seu, mas interesses coletivos, comuns. O futuro da humanidade depende dos ativistas e cientes. Se menos pessoas se lançarem em incertezas e inseguranças, se menos pessoas tiverem o compromisso de lutar ‘para a cada um todos os direitos’, se menos pessoas estiverem na linha da frente, ignorarem a realidade, não tiverem o empenho ativo de superar obstáculos e pressionar para soluções sustentáveis, então o futuro da humanidade fica comprometido.
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O presente texto é um ensaio escrito por dois inconformados e inquietos ativistas políticos e pesquisadores: um, assumidamente é cristão católico, praticante e consagrado (Crisóstomo). Outro, é ateu por convicção, crença e aceitação (Tomás). Lançamo-nos ao desafio de elaborar uma filosofia política para ativistas e cientes em um momento em que Tomás Júnior encontra-se na França – tendo a bênção de acompanhar de perto todo o movimento dos Coletes Amarelos –, e Crisóstomo Ñgala no Brasil, e partimos do princípio de que, além das nossas diferenças, crenças, convicções, experiências e opções pessoais, há o que não podemos relegar ao deus-dará e deixar levar pela sorte o que nos afeta. Há uma inquietação comum, entre nós, segundo os modos de vida que levamos, inquietação que nos move e nos une. Daí ocuparmo-nos com o que nos transcende: questões sociais, públicas, justiça social.
Sentimo-nos no direito de carregar as marcas do ativismo, agregar atitudes expansivas e fazer algo pelo bem comum, que na maioria das vezes não está em conformidade com o senso comum. É nossa sensibilidade humana e a vontade de podermos dar o nosso contributo por uma justiça efetiva, paz, segurança entre os povos e fim de todo tipo de ditadura, arbitrariedade e autoritarismo, que nos moveram a elaborar o presente ensaio. O presente ensaio e guia não é um estudo de caso. É uma proposta filosófica e política, cuja análise para a sua elaboração e estruturação teve como motivação a realização de uma oposição às barbaridades que têm sido praticadas de forma irresponsável, criminosa e vergonhosa pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Nossa intenção é criar um espírito de resistência, desobediência e consciência cívica a qualquer povo e pessoa humana que se encontre em situações análogas às injustiças do MPLA. Nosso propósito é fornecer um guia de derrubar uma ditadura sem cair em uma nova ditadura, de forma sábia, estratégica e ciente. De igual modo, esperamos que, ao discorrer sobre as páginas seguintes, no final da leitura você também possa colocar na agenda a concretização de objetivos subversivos, desinstalando e incomodando os que se encontram em posições de privilégio e poder e não se dão contam dos males e arbitrariedes que causam.
Não temos o menor interesse de que nossos nomes constem nas lápides da história, com epitáfios perenes a vermelho. Para esta luta, seguimos uma fórmula de convivência que, segundo Paley, citado por Henry D. Thoreau, em a Desobediência civil, enquanto não se resiste a um governo estabelecido ou mudá-lo sem inconveniência pública, é a vontade de Deus que tal governo seja obedecido – e nem um dia além disso. Admitindo-se este princípio, a justiça de cada ato particular de resistência reduz-se a computação do volume de perigo e protestos. Ou, por outro lado, da probabilidade de custos de reparação. Não temos outra opção ou alternativa viável e sustentável, senão lutar por meios que dispomos. E, como diz Jonh Gaddis, em As Grandes Estratégias, ‘a história não exige heranças diretas’. Temos interesse em assuntos públicos, o MPLA desde que está no poder em Angola (desde 1975) tem cometido absurdos e abusos irritantes que obrigam a pensar em como abalar suas certezas.
Mais do que criar uma consciência cívica e propor uma desobediência às estruturas de poder, estruturas apodrecidas e opressoras, entendemos que dispomos de um mecanismo de resiliência que visa criar uma vontade de resistência. Resistência esta que, segundo Harold Wilson, é o resultado de uma alma que não se conforma com o sofrimento, luta incansavelmente, superando as tribulações, vendo além das tempestades um caminho de luz e segurança. Essa alma cresce no tamanho de seus sonhos e vê nas dificuldades degraus para se alcançar a vitória almejada. Suficientemente preparados ou não, cedo ou tarde, parafraseando o mote do MPLA, a luta continua, pois a vitória é certa.
Queremos que as coisas funcionem, na prática. Há muitas negações e aspirações, e poucas ações. Mesmo entre pessoas subversivas, ativistas e cientes, entre o que fazem, há muita espontaneidade, gestos postiços e paliativos, feitos por boa vontade, mas insustentáveis. Queremos que as pessoas façam do ativismo parte de sua rotina. Queremos que as pessoas se autoempoderem, conheçam o valor da liberdade, da criatividade e da lealdade. Assim será possível apreciar a importância da rotina, da ordem e a eficiência, nas ações de cada um. Preocupa-nos a vaga percepção do ativismo que vem sendo criada, a ponto de muitos se familiarizarem com o vandalismo, o que não é.
Ao escrever para ativistas e cientes, achamos por bem dar atenção ao que muitos voltam as costas, por medo ou por frustração. Mais do que dar atenção, essa é nossa homenagem a todos os que são capazes de desafiar o bom senso e o senso comum, em detrimento do bem comum. Ninguém imagina quantas pessoas podem vir, ainda mais, a ser poupadas de serem vítimas de autoridades abusivas. O poder, em mãos erradas, causa danos inimagináveis. Quase todos os dias, em nosso dia a dia, deparamo-nos com situações que só nos permitem duas opções: lutar ou fugir. Não podemos fugir da realidade. Obviamente, como diz o poeta T. S. Eliot, ‘o gênero humano não suporta muita realidade’. E essa é a realidade: o futuro da humanidade depende dos ativistas.
*Os autores optaram pela ortografia do acordo ortográfico não subscrito por Angola.
A humanidade está em decadência, para muitos, já não solução, para outros/as a solução está na divindade (Deus), mas para nós os Activistas, nós somos a solução da humanidade, bem aja aos irmãos que deram o seu melhor para este lindo e riquíssimo texto.
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Somos a solução da humanidade, somos e temos responsabilidade.
Na verdade é um texto profundíssimo, eu assino a baixo sem sobressaltos. O que exige o bem, lutamos sem parar mesmo que a morte nos venhas atacar, jamais desistiremos.
Bem haja!
2020 muita luta
Na verdade é um texto profundíssimo, eu assino a baixo sem sobressaltos. O que exige o bem, lutamos sem parar mesmo que a morte nos venhas atacar, jamais desistiremos.
Bem haja!
Se cada cidadão ser um activista, teremos uma sociedade sã com um futuro promissor para as gerações vindouras. Agir é urgente.
Infelizmente em Angola o Povo foi ensinada a acomodar-se com o pouco que tem em vez de lutar para ter mais pães na mesa!
Agradeço aos autores deste texto e saibam que aguardo expectante o livro para fortificar a nossa luta!
FILOSOFIA POLÍTICA PARA ACTIVISTAS!
Gostei! Façamos do ativismo a nossa rotina, o futuro da humanidade depende dos ativistas!
Este é o desafio eterno. Assinamos com os nossos dedos. A responsabilidade é nossas, activistas, determinar e ditar o futuro da humanidade. O silêncio pode comprometer as gerações vindouras de tal maneira.
Infelizmente, por uma e outras razões muitos optam pelo silêncio por razões inexplicáveis do ponto de vista humano. Mas ainda assim, precisamos RESISTIR, DESOBEDECER E EM CONJUNTO CRIAR O CAOS CRIADOR.