O relativismo político e a força da alienação em África

O relativismo político e a força da alienação em África

Africa 2
[Pt|rmc]
Por Muata Sebastião|| Nas vésperas de mais um dia de África, celebrado todos os dias 25 de Maio, conforme o estipulado pela Organização de Unidade  Africana (O.U.A), hoje simplesmente União Africana (U.A). Os africanos, infelizmente, ainda olham na data com muita superficialidade e subjetivismo quando na verdade, a data “convoca-nos” para uma reflexão profunda sobre o continente que apesar de tudo ainda vive os horrores de uma política aquém do progresso e da liberdade clamada pelos antigos e, sobretudo, pelo próprio pan-africanismo e tantas outras lideranças que, ao longo dos tempos olhavam e, muitos destes, ainda olham na África como um continente emergente e que precisa  livrar-se dos «dogmas políticos» e toda  qualquer  forma de engano em vigor.

Em África , infelizmente , ainda se vive uma política alienadora, realidade do século XIX que com esta tendência o progresso, por parte de alguns líderes, é perseguido o que faz com que, para muitos,  o progresso se  tornasse numa inutilidade. E isso aduz-nos a seguinte inquietação: Onde está a boa vontade política evocada pelas antigas lideranças africanas e hoje clamadas pelas organizações como, por exemplo, a  CEDEAO ou mesmo na pela SADC? Não será que aqueles que anteriormente lutaram fortemente contra o colonialismo europeu são os mesmos que hojem governam seus povos com mão de ferro? Os traídores da pátria! E estes,  por sua vez, transformaram a política não mais como aquela arte evocada por Aristóteles, mas como a principal ferramenta de manipulação  e alianação com o objetivo de tirar vantagens e verem seus privilégios multiplicarem-se: «egocracia»!

É uma política que, mais do que atípica, tem  revertido  o sentido de governação, sobretudo, a centralidade do poder é, para muitos, algo institucionalizado, sacramentalizado e, por tanto, merecedora de  adoração e não de uma possível critica (dogma político) , isso tem feito com que muitos países continuem, ainda, clamando pela liberdade, muita das vezes com maior intensidade do que os clamores feitos pelos nossos antepassados que, obrigados a enfrentarem a força colonial europeia,  perderam vidas em prol da liberdade africana.

Os clamores actuais têm sido uma das manifestações  que tendo os africanos ultrapassado o nível de incertezas e desconfianças quanto ao progresso político interno e, cuja a ineficiência é clara, resultando da mesma o que chamaria de «sintómas sociais» de uma política em que, seus actores pisam na aceleração do retrocesso ao invés de na do progresso dos povos e nações.

A visibilidade dos sintómas a que me refiro, podem ser notados no elevado nível de atraso civilizacional, a mortalidade infantil cada vez mais crescente, a miséria  aquém do normal, quando os estudos internacionais apontam o continente como a região do planeta que mais cresce dado o potencial dos recursos naturais que tem. Tudo isso, deve  fazer-nos refletir e olharmos no continente como um problema que nos afeta directamente.

Nelson Mandela
[Pt|rmc| Uma boa África passa por seguir o exemplo de Nelson Mandela]
As políticas públicas inexistem em muitos países; continuamos vendo grupos políticos que governam para o benefício próprio quando, grande parte da população vive abaixo dos índeces do desenvolvimento como salienta a Word Bank Group, “ um em cada dois africanos vive actualmente em pobreza extrema” e o mesmo relatório ainda diz que” em 2030, o maior número dos pobres no mundo estará na África”. Portanto, todos esses e outros estudos não são feitos apenas para nos mostrarem como as estatísticas estão contra nós, mas devem mobilizar-nos no sentido de pensarmos na África com maior interesse e seriedade possível uma vez que, não são poucos os problemas que nos afligem.

Dois terços (2/3) da população em África vive , segundo algumas fontes, abaixo do linear da pobreza, o que indica um décif enorme no que concerne aos indicadores sociais que continuam a apontar-nos para um esforço tremendo de modos a ultrapassarmos a situação.

O que significa dizer que, o dia 25 de Maio não deve ser um dia passado e comemorado no vazio, deve ser um dia em que reflexões profundas deveriam ser feitas. Digo profundas no sentido em que, não são confortáveis as situações que o continente vive que, além da malária, da fome, da pobreza, da cólera, e do próprio HIV temos uma política que pouco faz  para combater esses e tantos outros problemas a que somos submetidos a encarar sem maiores probabilidades de uma possível saída para tal!

O 25 de Maio não deve ser um dia de luxo, quando na verdade, seu significado vai além do simples luxo  que muitas autoridades pensam, remetendo-nos a uma falsa “auto-compreensão” tal como dizia Gadamer em sua Hermenêutica filosófica, e que segundo o mesmo,  “isso só ocorre quando devemos um respeito excessivo às autoridades” que além do mais, incutem-nos valores além de dogmáticos e preconceituosos, olham no povo com base as  suas políticas alienatórias  não como merecedores de promoção, mas como objectos de alienação, dominação, tornando-os aptos para a obediência cega ( ética do rebanho).

É preciso percebermos que o valor da África não consite apenas pelos vastos recursos naturais que tem, seu valor vai muito mais além disso. Somos um povo que merece dignidade, apesar das nossas diferenças étnicas, religiosas e políticas. Devemos, ainda saber que os vários problemas que hoje se vivem em África, são em grande parte, resultados das instituições incompetentes que temos, de pessoas que se acham os «resolvedores» de problemas quando na verdade não passam de simples «atrofiadores políticos».

Por isso, mais do que procurar ou mesmo recorrermos em outras instituições implorando qualquer tipo de ajuda, precisamos nós mesmos assumir os problemas como sendo de natureza africana, ou seja, assumamos todos esses problemas como nossos pois,  somente assim, nosso empenho será incondicional na luta contra todo «engano político»  ao qual estamos submetidos.

Olhemos num dado interessante: quantos e quantos irmãos africanos arriscam suas vidas no pacífico em busca de boas condições? Quantas vidas foram perdidas  no pacífico? Somos africanos para fugirmos dos nossos problemas ou para enfrentá-los?

Está chegando a hora e já chegou em que os problemas do continente e suas resoluções devem ser assumidas pelos próprios africanos, não vamos esperar sempre que as ajudas humanitárias intervenham, que a ONU diga ou que FMI injete dinheiro em nossos bancos que, na maioria dos casos  nem sempre são usados para o bem do povo.

É necessário, que haja forte empenho de nossa parte começando por repugnar tudo aquilo que não nos representa e nem nos torna humanos sequer. Não precisamos mendigar por aquilo que deveriamos ter por direito, mas sim lutar para que o direito e a soberania nos seja devolvidos e respeitados para sempre.

O futuro de África depende de nós e devemos ter em mente que somente nós, através de uma luta conjunta conseguiremos mudar o quadro da situação que, infelizmente, ainda é alarmante!

Que o dia 25 não seja mais um dia qualquer, mas o dia cujo significado passa necessariamente não apenas na sua institucionalização, ocorrido em 1963 e reconhecida sua importância pela ONU em 1972 como reza a história. Precisamos encarar essa data no modo  sobre  como podemos descutir nossos problemas, analizando-os seriamente sem  esquecermos de que, apenas cabe a nós a responsabilidade para que a mudança aconteça.

Parabéns  o dia de Áfrrica e a todos os africanos de boa vontade!

«Não vamos desistir» de África!

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