Acordo extra-judicial ditará vitória de Marques sobre os generais

Acordo extra-judicial ditará vitória de Marques sobre os generais
Rafa Vitoria
[Pt| rmc| Rafael Marques]

Sob iniciativa dos generais e equipa de acusação, iniciou uma ronda de negociações nos bastidores com vista ao encerramento do processo e acusações que pesam injustamente sobre Rafael Marques de Morais.

A sessão do julgamento do jornalista Rafael Marques, marcada para hoje (23/04) em Luanda, foi adiada novamente para que sejam analisadas ao pormenor algumas questões do processo que foram colocadas na primeira sessão. O julgamento continua a 14 de Maio.

A parte acusadora pediu o adiamento da sessão para verificar, entre vários aspectos, se Rafael Marques entrou realmente em contacto com os directores das empresas citadas no seu livro antes da publicação, e quais as pessoas que receberam as correspondências alegadamente enviadas pelo jornalista, declarou à imprensa o advogado de Rafael Marques, David Mendes. “Eles precisam confirmar quando é que as correspondências deram entrada e quem recepcionou para que possam ter um posicionamento de acordo com aquilo que seria o contraditório”.

Sobre o provável acordo entre Rafael Marques e os generais para que seja alcançado um entendimento amigável, David Mendes diz não ter conhecimento sobre esta questão e negou-se a opinar. “Não existe nenhum acordo amigável. Não tenho conhecimento. O que não está escrito ou colocado na mesa, eu não posso me debruçar. Tecnicamente posso dizer que não houve adiamento por causa de algum provável acordo entre as partes, nem se colocou isso se quer em momento algum”.

Várias são as opiniões nas redes sociais sobre o julgamento. Internautas discutem e fazem suposições sobre o desfecho deste caso. O advogado também esclareceu que os rumores sobre isso não fazem sentido pelo facto de o autor do livro Diamantes de Sangue estar numa condição de dependência. “Se ele fosse o acusador e o forçassem a retirar uma queixa, aí sim poderiam dizer que foi influenciado. O Rafael Marques é o acusado, não pode desistir”.

Kopelipa
[Pt| rmc| General Kopelipa]
Rafael Marques é acusado de denúncia caluniosa, por ter exposto abusos contra os direitos humanos na província diamantífera da Lunda Norte, com a publicação, em Portugal, em Setembro de 2011, do livro Diamantes de Sangue: Tortura e Corrupção em Angola.

Os queixosos são sete generais, entre eles o Ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, general Manuel Hélder Vieira Dias Júnior, conhecido como “Kopelipa”, e os representantes de duas empresas diamantíferas.

O julgamento teve início no fim do mês de Março, no Tribunal Provincial de Luanda, mas acabou por ser suspenso para hoje. A sessão de hoje também foi adiada para análise minuciosa do processo.

Generais querem “acordo amigável”

“O que vai acontecer é que a parte da acusação vai apresentar um pedido. O que se pretende agora é resolver o caso de forma extra-judicial. Eu falei directamente com os generais e preferimos chegar a um entendimento satisfatório para todas as partes”, disse o jornalista e activista.

Rafael Marques afirma que polícia prendeu testemunha

 “Está detido desde as 9 h no Comando Municipal da Polícia de Capenba Camulemba e quem me prestou a informação foi o próprio secretário” (do chefe tradicional), disse à Lusa Rafael Marques, denunciando que a polícia prende a sua testemunha, o soba Mwana Capenda.

De acordo com o jornalista e activista de direitos humanos angolano, não foi formalizada qualquer queixa contra o soba Mwana Capenda, que prestou declarações a um tribunal em Lisboa, este mês, em conjunto com Linda Moisés Rosa, outra testemunha de Rafael Marques no processo que o opõe a vários generais angolanos, que o acusam de difamação pelo conteúdo do livro “Diamantes de Sangue”.

Capa Rafa
[Pt| rmc| O livro da polémica]
Além de serem testemunhas no processo judicial, os dois angolanos denunciaram abusos de direitos humanos que se vivem na zona nas Lundas, numa conferência que decorreu no Gabinete do Parlamento Europeu, em Lisboa, organizada no passado dia 07 de Fevereiro pela eurodeputada socialista Ana Gomes.

“A única coisa que lhe disseram (ao soba Mowana Capenda) é que ele está a falar muito e que nem a Ana Gomes o vai tirar desta situação. Um dos polícias disse: ‘vamos lá a ver o que a Ana Gomes vai fazer’”, acrescentou Rafael Marques, que está em contacto com os assessores do chefe tradicional. Segundo Rafael Marques, também Linda Moisés da Rosa está a ser alvo de vigilância da polícia angolana no local onde reside.

“Por volta das 08:30 (07:30 em Lisboa) a polícia esteve a rondar a casa de Linda Moisés da Rosa, que fica a 90 quilómetros da residência do chefe tradicional. Acabei de falar com ela”, acrescentou Rafael Marques que considera que as duas testemunhas estão a ser alvo de uma “clara perseguição” comandada por “figuras poderosas do Estado”.

“Fico apreensivo quando uma camponesa, esta senhora, me diz que vai fugir para as matas mas não sabe exactamente para onde fugir e como ficar porque lhe disseram claramente que a missão da polícia é vigiar a casa até ser apanhada”, disse Rafael Marques, que tenciona apresentar novas testemunhas.

“Os generais querem julgamento, vão ter julgamento e mais pessoas falarão. O próprio soba e a Linda Moisés disseram que não têm medo. Foram extremamente abertos”, disse ainda o activista.

Os dois cidadãos angolanos já se encontravam mencionados no livro Diamantes de Sangue e relataram abusos de direitos humanos que dizem ter testemunhado na região das Lundas.

Fonte: Lusa, RA & OI.

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