VIOLÊNCIA POLICIAL E ABUSO DE PODER

VIOLÊNCIA POLICIAL E ABUSO DE PODER

«Quando temos uma arma, que pode cuspir fogo e morte, e recebemos ordens, perfilados em frente a uma bandeira, sem saber quem lucra com essas ordens, quem lucra com esse fuzil, então, tornamo-nos criminosos em potência que esperam apenas um clique para semear o terror ao redor de si.»

Thomas Sankara│Desafio: prove-me que a COVID fez mais vítimas que o «partido sanguinário», em contrapartida, provo-te que o «pai natal» existe e mora em Makela do Zombo. 2020 ficou marcado por uma explosão de protestos anti-racistas pelo mundo, logo após a morte de George Floyd, assassinado por um polícia em Mineápolis. Enquanto isso, diante do silêncio daqueles que Étienne de La Boétie, preferiria chamar de «escravos voluntários», a polícia angolana soma com assassinatos de pobres, crianças e um médico, em nome da lei. Os agentes de manutenção da desordem e terror, foram distribuindo «rebuçados e chocolates» conforme a orientação do rei da selva, o intérprete da gang.

Estamos na praxis do Fahrenheit 451, um romance de ficção científica, escrito por Ray Bradbury? Para mim, não resta nenhuma dúvida. Angola é um exemplo puro de inversão de valores. Aqui um analfabeto funcional entende que percebe melhor as regras de biossegurança do que um médico e sentencia-o com a morte.

É selvagem qualquer Estado que ataca a sua população com violência e defende-se através da lei. É preciso desobedecer. Enquanto isso, na mesma semana, foi assassinado o médico Sílvio Dala. No twitter brindou-nos o bárbaro com o seguinte: «Gesto nobre dos kuduristas angolanos, ao homenagearem o grande SEBEM. O kuduro é nosso, é angolano e orgulha-nos. A felicidade, todos nós queremos. Muita saúde para o SEBEM.» Um gesto de ignorância e desprezo pela vida humana, ficou provado (outra vez) que este ser é mesmo estranho.

A cultura jurídica e pedagógica para os polícias do MPLA é coisa de outro mundo, o mais importante é mesmo bater e matar. Um polícia que recebe a informação de que as pessoas estão divididas entre pobres e ricos, e que, os pobres são criminosos, dificilmente tratará as pessoas com dignidade e respeito. Um polícia que é formado politicamente com ideias de que prender não adianta; que direitos humanos atrapalham, dificilmente não sentirá prazer em ceifar vidas. A filosofia do treinamento isolado da polícia e militares fez seus efeitos – eles, em geral, não se consideram parte do povo. E aposto que a ascensão à cargos, talvez depende do grau de barbaridade, ou seja, quanto mais bárbaro melhor.

Thomas Sankara descreveria com perfeição o estado de espírito desses agentes: «Quando temos uma arma, que pode cuspir fogo e morte, e recebemos ordens, perfilados em frente a uma bandeira, sem saber quem lucra com essas ordens, quem lucra com esse fuzil, então, tornamo-nos criminosos em potência que esperam apenas um clique para semear o terror ao redor de si.»

O homem vai mais longe e questiona «quantos militares são enviados para [este e aquele país], ou para tais e tais campos de batalha, levando a desolação e crime, mas sem compreender que são colocados em combate homens e mulheres que lutam pelos mesmos ideais que eles teriam se tivessem consciência. Filhos de operários que vêem os seus pais entrar em greve contra regimes reacionários, mas que, uma vez que entram no exército, aceitam combater ao lado dos dirigentes reaccionários. Isso existe. Portanto, um militar sem formação política, ideológica, é um criminoso em potência.»

É inútil pedir e exigir a demissão dos mandantes desses criminosos, não o farão. Aliás, em situações normais, já deviam… mas… o regime fortifica-se com esse sangue, para impôr o medo e o terror.

A violação dos direitos humanos é marca desse regime. Mata e é incapaz de cumprir a lei que desenhou à sua medida.

O grau de maldade superou as expectativas. Apoio definitivamente as teorias de Jacques Lesage De La Haye sobre L’abolition de la Prison. Ainda assim, em sociedades atrasadas, proponho que usem as prisões e parem de matar as pessoas. Outra proposta é o cultivo de uma moral estóica, para se viver num regime…

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